Resenha: Os Três - Café & Espadas

26 de junho de 2014

Resenha: Os Três

Título – Os Três
Título Original – The Three 
Autor – Sarah Lotz 
Páginas – 393 
Editora– Arqueiro 


Sinopse


Quinta-Feira Negra. O dia que nunca será esquecido. O dia em que quatro aviões caem quase no mesmo instante, em quatro pontos diferentes do mundo. 


Há apenas quatro sobreviventes. Três são crianças. Elas emergem dos destroços aparentemente ilesas, mas sofreram uma transformação. 


A quarta pessoa é Pamela May Donald, que só vive tempo suficiente para deixar um alerta em seu celular: 


Eles estão aqui. O menino. O menino, vigiem o menino, vigiem as pessoas mortas, ah, meu Deus, elas são tantas... Estão vindo me pegar agora. Vamos todos embora logo. Todos nós. Pastor Len, avise a eles que o menino, não é para ele...” 


Essa mensagem irá mudar completamente o mundo.


Vou começar essa resenha um pouco diferentes das outras que já escrevi, pois tudo nesse livro é bem diferente dos outros que já recebi e li.

Fui pego de surpresa quando foi entregue em minha casa o exemplar enviado pela Editora Arqueiro, parceira do Café & Espadas.

O motivo da surpresa foi a forma como o livro veio embalado: uma caixa de papel de qualidade, preta como tudo na edição do livro, com as três ranhuras vermelhas que dão o charme macabro da capa desta obra. Realmente, de encher os olhos. Pena que os correios não prezam por esse tipo de cuidado e pela satisfação do consumidor, pois a caixa veio com várias partes amassadas e até rasgadas. Mas para os leitores mais experientes com entregas de livros (ou qualquer outro tipo de encomenda) isso não é novidade. O péssimo serviço - caro, demorado e descuidado! – já é marca registrada do correio brasileiro.

Mas deixando isso de lado, devo enfatizar algo sobre a edição de Os Três: a edição é simplesmente um espetáculo em todos os sentidos. A capa é linda, simples e condiz com toda a aura que cerca a história escrita por Sarah Lotz. As páginas com bordas pretas dão a impressão que você carrega um exótico monólito. Os erros de revisão são praticamente inexistentes e a diagramação é perfeita. É fácil notar o empenho da editora em produzir uma edição condizente com a qualidade da obra, e isso a Arqueiro fez com maestria. Mas vamos ao livro em si.

Há muitas qualidades que devem ser apontadas em Os Três. Uma delas é a sua ideia básica, onde toda a trama se origina e em torno da qual todos os acontecimentos orbitam.

Quatro terríveis catástrofes aéreas matam milhares de pessoas em quatro lugares distintos do mundo. em cada acidente, um sobrevivente. Quatro crianças, três meninos e uma menina. Que não são mais os mesmos de antes.

Ligado a isso temos uma mensagem deixada por uma das passageiras do avião que caiu no Japão. Essa sms gera uma série de eventos e especulações (em sua boa parte indo para um lado místico) que culminam em ondas de movimentos religiosos, comoções públicas para com as vítimas e para as três crianças que sobreviveram.

Não demora muito para que grandes conspirações surjam, e tudo se torne um inferno psicológico para os familiares das “crianças-milagres”, ao mesmo tempo que eventos sobrenaturais os rondam e várias teorias são levantadas, por mais absurdas que sejam.

Tendo essas primícias para a história, a autora Sarah Lotz nos apresenta uma forma simplesmente brilhante de apresentar a sua narrativa: um outro livro dentro de Os três.

Elspeth Martins é uma jornalista fictícia que escreveu o livro Quinta-Feira Negra – Da queda a conspiração, onde ela reúne depoimentos, conversas de skype, e-mails e até cartas de pessoas ligadas aos familiares das crianças que sobreviveram as tragédias. Também são usados artigos informativos de sites e blogs dedicados a estudar e teorizar os eventos decorrentes da Quinta-feira Negra. Os eventos que irão transformar o mundo profundamente.

O mais interessante – e notável – nessa forma de narrativa escolhida pela autora é que a trama não apresenta um protagonista. São tantos personagens interligados entre si que é praticamente impossível apontar um que tenha uma função central, um destaque. As quatro histórias correm de forma entrelaçadas, se cruzando em alguns pontos. E isso nos prende na leitura desse livro.

A escrita da autora é contemporânea, fluida e repleta de referências a cultura pop e a eventos políticos recentes. Em determinados momentos a trama parece se arrastar e dar voltas, e é nesses momentos que um evento estranho é descrito, e lá estamos nós presos novamente na curiosidade de saber o que vem a seguir. E isso se prolonga até a boa guinada final.

O elemento suspense foi colocado em uma boa medida – mesmo que eu ache que ele poderia ter sido um pouco mais explorado... – e coloca o leitor para elaborar suas próprias teorias sobre, afinal, o que diabos aconteceu com essas crianças. E isso tornou a leitura divertida em determinados momentos, e um pouco vaga em outros. E de gelar a espinha em alguns.

Os personagens (que são bem numerosos...) são frágeis e reais. Mostram as melhores e piores faces que um ser humano pode revelar diante de grandes tragédias e do medo do desconhecido. Alguns são tomados por questionamentos cruéis, e são pegos pelo fato de que teria sido melhor ter perdido tudo nas tragédias da Quinta-Feira Negra.

No geral, podemos dizer que Os Três transborda a temática do sobrenatural e escancara de forma bem incisiva os males causados por qualquer tipo de fanatismo, principalmente o religioso, junto com tudo que é intrínseco a ele, como a ignorância da grande massa e como alguns podem usar isso em benefício próprio de uma forma inescrupulosa. Piorando o mundo que eles deveriam melhorar.

Se pudéssemos resumir Os Três em uma única palavra, essa palavra seria “instigante”.

Sarah Lotz conseguiu fazer um livro que envolve o leitor em uma atmosfera inquietante, realmente instigante, que faz você pensar na história mesmo depois do término da leitura. Não somente sobre os aspectos mais obscuros e paranormais, mas também sobre como as convicções humanas e julgamentos precipitados podem levar a tragédias terríveis com consequências que se arrastam em várias camadas sociais. Esse foi o ponto mais interessante de toda a narrativa.

O livro não me agradou por completo. Acho que algumas coisas ficaram muito suspensas e vagas, o que pode tornar a especulação sobre o real significado das coisas difícil para o leitor. Mas a obra passa bem longe da mediocridade (mas também não chega a ser excepcional), e se torna uma ótima leitura, que poderia ser melhor...

Então, não espere um livro de terror explícito! Não espere que no final do livro tudo seja explicado nos mínimos detalhes.

Espere por uma história que vai se arrastar até você no fim da noite, e te fazer pensar bastante sobre ela e suas “crianças-milagres”. Espere uma viagem cruel pela intolerância humana e suas raízes podres e incongruentes.

Recomendo a leitura.


História
Escrita
Revisão
Diagramação
Capa

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