Título – Ruas Estranhas
Título Original – Down These Strange Streets
Autores – Charlaine Harris; Joe R. Lansdale; Simon R. Green; Steven Saylor; S. M. Stirling; Carrie Vaughn; Conn Iggulden; Laurie R. King; Glen Cook; Melinda M. Snodgrass; M. L. N. Hanover; Lisa Tuttle; Diana Gabaldon; Maddox Roberts; Hurog; Bradley Denton. (Citados aqui por ordem respectiva a posição do conto escrito pelo autor na coletânea.)
Páginas – 492
Editora – Fantasy
Sinopse
Ruas Estranhas é uma coleção de 16 histórias de fantasia urbana na qual os editores George R. R. Martin e Gardner Dozois reúnem grandes nomes da literatura como Charlaine Harris, da série True Blood, Conn Iggulden, da série O Imperador, Glen Cook, Patrícia Briggs e Diana Gabaldon.
Nessas histórias, nascidas da imaginação de autores vencedores dos prêmios mais importantes do gênero, eles exploram mundo de vampiros sedutores, lobisomens assustadores, espíritos que ajudam humanos a solucionar mistérios, demônios, zumbis e outras criaturas que habitam nossos pesadelos.
Cuidado! O Perigo está em cada esquina.
E
chegamos a segunda e última parte da resenha de Ruas Estranhas, essa coletânea de contos de fantasia urbana editada
por George R. R. Martin e Gardne Dozois.
Se
você ainda não leu a primeira parte da resenhas clique aqui para ler. Na
resenha anterior falamos sobre os primeiros oito contos, por meio de
“mini-resenhas”, e seguiremos a fórmula nessa segunda parte.
Mas
vamos ao que interessa. Desde já quero resumir minha opinião sobre essa segunda
parte: ela não correspondeu as minhas esperanças de melhora.
Ladrões de Sombras – de Glen Cook
Sabe
quando você lê um livro, e a sensação que fica depois da leitura é um vazio?
Pois é... acho que isso resume tudo...
Temos
aqui o nono conto dessa coletânea, Ladrões de Sombra escrito por Glen Cook, que
abre com chave de plástico a segunda resenha de Ruas Estranhas.
O
autor é famoso por séries como Black Company e Starfishes, uma que narra as
aventuras de um bando de mercenários em um mundo de fantasia e a outra uma
ficção científica baseada na mitologia nórdica. E outra série famosa desse
autor é Garret, DP, como mais de dez volumes que traz as aventuras de Garret,
um detetive particular que vive em um mundo povoado por humanos, seres mágico e
raças mestiças e inteligentes, tudo regado a muita magia e mistério. E esse é o
protagonista desse conto.
Garret
divide uma casa com seres estranhos: um ser estranho, com tromba, obeso e
inerte, que se comunica por telepatia, que ele e todos os outros moradores
chamam de “Homem Morto” (?); Penny, uma adolescente bela e atraente com um faro
apurado para confusões; Um cozinheiro chamado Dean que não influi nem contribui
para a história; e Singe, uma ratazana com aspecto antropomórficos boa com
armas e ótima farejadora.
A
trama começa quando a casa de Garret é invadida por seres que parecem ogros (ou
trolls) em uma cena de ação muita confusa (como todo o resto do conto).
Aparentemente, eles estão atrás de uma caixa que contêm a Sombra de Ryzna, um
artefato místico que reúne a alma de vários magos mortos.
A
história segue, com uma narrativa confusa, mal escrita e com os personagens
(estranhos e mal caracterizados) soltando frases soltas, que parecem ter
conexão ou sentido somente na cabeça do autor.
O
conto poderia até ser bom, mas é vazio, sem andamento, e o pior: nada se
resolve no final. O que dá a sensação de que ele tem uma continuação em algum
lugar (possivelmente, algum volume da série Garret, DP), ou em lugar algum.
Primeira vez que vejo isso em um conto.
A
única pergunta que deve ficar após a leitura de Ladrões de Sombras é: Por que
diabos escolheram esse conto? Os editores pelo menos o leram antes?
Confesso
que dificilmente lerei qualquer outra coisa escrita por esse senhor chamado
Glen Cook.
Sem
mistério, sem milagre - de Melinda M. Snodgrass
Eis
mais um conto que entra para o conjunto dos medíocres.
Melinda
M. Snodgrass é autora de vários títulos como Circuit, CircuitBraker, Final Circuite The Edge of Reason. Mas dois trabalhos de longa data merecem
destaque: seus roteiros para a série Star
Trek: a nova geração (da qual também foi produtora) e a sua participação na
criação da série Wild Cards; série
que, como sabemos, conta com a edição do próprio George R. R. Martin.
Em
seu conto a autora nos insere em uma trama que envolve seres superiores, o
governo dos Estados Unidos, um anel nefasto e com uma energia que emerge do
lado mais obscuro do sobrenatural.
Essas
criaturas ancestrais estão entre nós, humanos, há muito tempo e chegam ao nosso
mundo por meio de fendas dimensionais. E a missão do protagonista, o detetive
Cross é achar uma dessas fendas e destruir o que passou por ela. E isso pode
significar a maior batalha que Cross já viveu e, mesmo ele sendo um desses
seres sobrenaturais, o medo o cerca em todo momento.
A
história possui bons diálogos e argumentos que vão duramente de encontro aos
princípios do cristianismo. A natureza desses seres superiores não é de todo
esclarecida, é deixada muito no ar, a cargo da interpretação e imaginação do
leitor, o que em determinados tipos de narrativas pode ser uma qualidade.
Mas
mesmo assim o conto não empolga como deveria, deixando um certo marasmo no ar.
Não que chegue a ser ruim ou mal escrito, só não externou todo o seu potencial.
A Diferença entre um Enigma e um
Mistério – de M. L. N Hanover
M.
L. N Hanover é um autor novato no mundo literário. Autor da série Black Sun’sDaugther e do livro Vicious Grace e se tomarmos esse conto
como uma amostra grátis da sua escrita e imaginação, iremos perceber que ele
leva muito jeito para a coisa.
O
detetive Mason (do contrário de boa parte dos outros detetives dessa coletânea)
não tem nada de sobrenatural, nem o mínimo contato com ele. Porém quando o
misterioso assassinato de uma garota, impregnado de indícios de rituais de
magia negra, é jogado em sua mesa e ele começa a receber ajuda de um consultor
em exorcismos.Mason é sugado por essas crendices que envolvem anjos e demônios,
o bem e o mal,e o que antes era um mero enigma evolui para um mistério. E um
mistério que irá colocar todo o ceticismo de Mason em xeque.
Com
um final bem diferente do esperado, uma escrita ácida, trama intrigante e com
bons diálogos com percepções filosóficas intrincadas, esse conto entra no mesmo
patamar de A Sombra que Sangra e A Dama Grita, mesmo que não seja ainda
tão bom quanto eles.
O
que impera na narrativa é a densidade do sombrio, da sensação de que algo maior
do que qualquer mortal movendo seus fios de marionete, manipulando os rumos de
tudo ao seu gosto. E isso é o que cativa os fãs de histórias mais nefastas e maduras.
O Curioso Caso do Deodand – de
Lisa Tuttle
Esse
conto, ambientado na Londres do século XIX, é um retorno aos moldes das
histórias mais famosas de Sir Arthur Conan Doyle, as aventuras do detetive
Sherlock Holmes e seu auxiliar Dr. Watson.
Lisa
Tuttle é premiadíssima e uma das escritoras mais respeitadas de sua geração.
Ganhou o prêmio Nebula em 1981, o British Science Fiction Awards em 1987 e
o International Horror GuildAward em
2007, somente com contos. Ela também escreveu vários livros. Um deles, Windhaver, foi escrito em parceira com
George R. R. Martin.
Em O Curioso Caso do Deodand a protagonista
narra em primeira pessoa a descoberta de seus próprios talentos de observação e
investigação, quando aceita uma oferta de emprego oferecida pelo detetive
particular JasperJesperson, um solteirão que vive com a mãe em um sobrado na
Gower Street, e soluciona casos misterioso até então não resolvidos pela
polícia.
Além
da aguçada perspicácia, A Srta. Lane possui um dom mediúnico: ela sente a
atmosfera dos ambientes, e presente se eles são atormentados por maus espíritos.Mesmo
assim, ela mostracerto ceticismo para com o sobrenatural. Mas tudo isso cai por
terra quando ela aceita o emprego de auxiliar do detetive Jasper, e o seu
primeiro caso é investigar dois assassinatos que ocorreram em circunstâncias
muito incomuns no passado e um que pode vir a ocorrer pelo mesmo motivo: uma
jovem que carrega uma maldição que afeta todos ao seu redor. Junto a isso surge
a imagem do tutor da jovem, que tem o hábito macabro de colecionar relíquias de
assassinatos.
O
conto é leve, sem muitas voltas no enredo e a escrita da autora é simples e
direta. O final não causa grandes emoções, mas, se o conto foi uma homenagem a maior
dupla de detetives que já existiu na literatura mundial, então o resultado
final ficou dentro do esperado. Nem mais nem menos que isso.
Lorde John e a Peste de Zumbis – de Diana Gabaldon
Esse
conto é de longe um dos mais volumosos da coletânea, mas, apesar do título, não
há tanto zumbi assim em suas linhas.
Diana
Gabaldon é autora da série Outlander
e uma “queridinha” do New YorkTimes.
Venceu prêmio importantes como o Quill
e o prêmio de ficção CorineInternational.
Os romances do lorde John são considerados parcialmente como mistérios
históricos e também detalhamentos da série Outlander,
cuja trama ocorre na Escócia do século XVIII e XX.
Mas
saindo das terras frias e chuvosas de Willian Wallace. Essa história se passa
em um lugar que poderia ser um grande paraíso tropical: a ilha da Jamaica.
Ao
ancorar nesse território novo e hostil, lorde John terá que enfrentar vários
problemas: uma revolta de escravos em pleno andamento e com proporções que
estão aumentando progressivamente em termos de gravidade e violência, corrupção
dentro do próprio exército inglês, o clima quente e abafado, animais
peçonhentos e, claro, zumbis.
Um
governador e um capitão estão desaparecidos e cabe a John encontra-los com a
ajuda de seu fiel valete Tom, do capitão Cherry e do major Fettes, membros
veteranos do seu batalhão. Logo acontecimentos sinistros começam a rondar a
mansão onde eles estão alojados, ao mesmo tempo que uma densa atmosfera de
misticismo tira o seu fôlego. Venenos poderosos, capaz de reerguer os mortos e
rituais de magia negra irão complicar ainda mais a situação e catalisar uma
trama onde nada nem ninguém inspira confiança.
O
conto, como já dito antes, é volumoso. E talvez esse seja um dos pecados
cometidos. Por ser extenso dessa forma a narrativa em vários momentos perde o
ritmo, como por exemplos nos diálogos que são constantemente interrompidos por descrições
feitas pela autora.A história poderia ser melhor, com um clímax melhor e
personagens mais envolventes, mas o máximo que ela consegue é ser, adivinhem!
Mediana também.
Cuidado com a cobra – um conto
SPQR – de John Maddox Roberts
É
amigos...Realmente as coisas não andam bem para a coletânea Ruas Estranhas.
Pergunto-me
qual foi o critério usado por George Martin e Gardner Dozois para escolher
quais autores iriam ter seus contos inseridos nesta compilação.
Se
for somente pelo fato deles estarem entre os mais vendidos do The New York Time, então eles deveriam
ter optado por outras referências, pois há um grande número de autores (que não
estão em listas de Best-seller) com
ótimas histórias, que poderiam ter recheado as páginas deste volume com contos
surpreendentes e de qualidade mais apurada.
Cuidado com a cobra tem sua narrativa em
primeira pessoa ambientada no poderoso império romano. DeciusCaecilus é um
senador que por vezes atua com investigador de homicídios enigmáticos e crimes
mais atípicos.
O
caso da vez é o misterioso desaparecimento de uma serpente sagrada de um templo
religioso, eu irá culminar em uma intriga entre irmão e um jogo de inveja e
cobiça.
John
Maddox escreveu uma história bem curta. Em todos os aspectos.
Além
de não ser muito volumosa, a narrativa não chega a instigar aquela vontade do
leitor de querer resolver o caso antes do detetive da trama. O clímax é pífio,
a investigação é exposta sem muitos refinamentos e faltou um elemento que até
então estava presente em todos os contos, e é uma das principais temáticas
desse livro: o sobrenatural. Realmente, um conto que você pode seguir para a
leitura do conto seguinte sem nenhum peso na consciência.
De Vermelho, com pérolas – de
Patricia Briggs
Finalmente
uma recuperada de fôlego, e finalmente de umadas autoras (que não se destacaram
muito nesse volume) escolhidas.
Patricia
Briggs é autora da série de fantasia Sianim,
que possui quatro volumes: Masques, Wolfsbane, Stealthedragon e Whendemonswalk
e de muitas outras obras que mesclam fantasia com aspectos puramente associados
aos gêneros de terror e suspense, como a série Mercy Thompson.
Este
conto trouxe de volta a idéia original da coletânea, o sobrenatural agindo
sobre o mundo humano por meio de um crime, o que leva um detetive (já
acostumado a lidar com seres mágicos ou de outros mundos) a uma investigação
minuciosa do caso. E é o que temos aqui.
Warren
Smith é um lobisomem, e trabalha como detetive particular na empresa de
advocacia de seu amigo (e amante) Kyle Brooks.
Quando
Kyle sofre uma tentativa de assassinato envolvendo uma linda mulher que foi
morta e transformada em um zumbi, vestida com um vestido vermelho e um
deslumbrante colar de pérolas, Warren parte em uma investigação profunda para
tentar descobrir o mandante do crime e o motivo de tudo. E para isso ele ganha
a ajuda de duas bruxas poderosas e dispostas a ir até o fim.
Esse
conto não chega a ser excepcional, mas comparado com os restantes dessa segunda
parte ele se destaca pela tensão e o mistério denso que a autora consegue manter
durante toda a narrativa e pela reviravolta que converge para um final
inesperado. Uma agradável surpresa no meio de tanta parvidade.
A águia de Adak – de Bradley Denton
Bradley
Denton é muito premiado internacionalmente e publicou diversos contos em
revistas de fantasia e ficção científica. E aqui em Ruas Estranhasfaz uma ótima contribuição para a seleção (não tão
ótima assim) de contos.
Em A águia de Adak somos transportados para
os cruéis tempos da Segunda Guerra Mundial, na inóspita região das Ilhas
Aleutas, no Alasca.
Dois
soldados recebem uma missão: investigar o misterioso surgimento de um cadáver
de uma águia que foi pregado em uma rocha nua em meio a neve e as ventanias
perigosas da região. Apesar de parecer um tanto quanto desconexa de um enredo
que envolva uma guerra e as forças armadas, essa busca logo evolui para uma
trama mais intrigante quando outro corpo é encontrado: o de um soldado da
marinha.
A
história nos deixa na ânsia por uma resposta até a última linha, e conta com
ótimas referências a uma grande obra da literatura policial, O falcão maltês escrito por
DashielHammet.
Um
bom encerramento para a coletânea, e um dos melhores contos sem sombra de
dúvidas, mas não tenho muita certeza se irá cair no gosto de todos.
No
geral, podemos dizer que Ruas Estranhas
é de um nível bem mediano.
Poucas
histórias se sobressaem, seja para uma qualidade superior ou inferior, e elas
se acentuam dentro de seus atributos: os contos bons são muito bons, e os ruins
são muito ruins.
Sinceramente,
esperava bem mais, pois a celebração criada em torno desse volume gerou uma
grande curiosidade em mim, mesmo eu não conhecendo 90% dos autores selecionados,
mesmo eu não sendo um leitor assíduo de contos e mesmo eu não conhecendo esse
gênero de fantasia urbana. Mas o que vale é a lição que já aprendi há tempos:
não se pode garantir a qualidade de uma obra só pelo nome de algum grande autor
que vem escrachado na capa, seja ele o autor da obra ou somente um crítico que
recomenda a leitura de tal obra. E isso vale para Ruas Estranhas.
Mas
calma, nem tudo são espinhos.
Há
muito contos que devem ser lidos e autores com obras novas, que podem despertar
o interesse do leitor pela fantasia urbana, e isso pode levar a um maior número
de publicações por aqui, no Brasil. E isso pode ser um novo abrir de portas
para esse gênero promissor.
Sobre
a edição feita pela Fantasy para esta coletânea podemos dizer que foi feito um
ótimo trabalho, realmente. Pouquíssimos erros de revisão, uma capa muito
atraente e ambientada na ideia do livro, e o papel usado (amarelado e um pouco
mais pesado que os comuns) rende um charme a mais para o conjunto.
Espero
poder ler mais obras com essa temática. Apesar dos vários deslizes, George e
Gardner acertaram em algumas de suas escolhas. Só espero que eles melhorem os
critérios de seleção, assim como espero um dia poder ler as outras obras de
alguns autores que contribuíram para este aglomerado de histórias.
História

Escrita

Revisão

Diagramação

Capa

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