Resenha: Admirável Mundo Novo - Café & Espadas

8 de fevereiro de 2014

Resenha: Admirável Mundo Novo

Título – Admirável Mundo Novo 
Título Original – Brave New World
Páginas –  398
Autor – Aldous Huxley 
Editora – Globo 

Sinopse


"- Atualmente, tal é o progresso, os velhos trabalham, os velhos copulam, os velhos não têm um instante, um momento de ócio para furtar ao prazer, nem um minuto para se sentarem a pensar; ou se, alguma vez, por um acaso, infeliz, um abismo de tempo se abrir na substância sólida de suas distrações sempre haverá o soma, o delicioso soma, meio grama para um descanso de meio-dia, um grama para um fim de semana, dois gramas para uma excursão ao esplêndido Oriente, três para uma sombria eternidade na Lua; de onde, ao retornarem, se encontrarão na outra margem do abismo, em segurança na terra firme das distrações e do trabalho cotidiano, correndo de um cinema sensível a outro, de uma mulher pneumática a outra, de um campo de Golfe-Eletromagnético a... - Vá embora, menina! - gritou o D.I.C., irritado. - Vá, garoto! Não veem que Sua Fordeza está ocupado? Vão fazer noutro lugar os brinquedos eróticos."

Aldous Huxley devia possuir um dom paranormal.

É essa conclusão que um leitor mais atento terá ao chegar no final desse incrível livro. E esse dom paranormal com certeza era a capacidade de ver anos à frente, além do seu tempo, além da tecnologia de sua época  e dos costumes da sociedade inglesa da década de 30. Como um profeta da idade média, Aldous descreve em seu livro uma distopia que, do contrário das profecias de muitos profetas medievais, gradativamente vem se tornando uma realidade; uma aterradora e preocupante realidade.
"Admirável Mundo Novo" é uma obra de ficção científica que nos apresenta uma sociedade futurista que sofreu com a terrível Guerra dos Nove Anos, e após isso instalou uma nova ideologia proposta e elaborada por Henry Ford, um messias, uma analogia a deus nessa nova era. Mais precisamente, a  história se passa no ano 600 d.F (depois de Ford, aproximadamente 600 anos após o ano de publicação do livro).
A principal realização de Henry Ford foi a invenção da 'linha de montagem' de humanos, onde cada um nasce predeterminado a fazer uma atividade, desde a considerada mais alta (liderança) até a mais baixa (trabalhos manuais). Isso daria ao estado o trabalho de regular toda essa produção.
Todos os seres humanos dessa nova sociedade são feito em laboratórios e não há mais a concepção natural, o sexo é visto somente com forma de prazer e distração, e a gestação e o parto natural são tratados com total repugnância por todos.
Os embriões são modificados geneticamente de acordo com a sua futura casta social (da mais alta para a mais baixa: alfa, beta, gama delta ou  ípsolons, e que ainda se subdividem em mais e menos.), por exemplo: ípsolons menos teriam baixa estatura e corpos aptos ao trabalho braçal pesado dentro até mesmo do próprio centro de fecundação e produção de humanos, enquanto os alfa mais ou betas são belos, inteligentes, e possuem uma série de privilégios e regalias, sustentadas pelo trabalho pesado dos indivíduos das castas baixas. Outro fato é a aproveitamento de óvulos durante a produção de ípsolons e gama deltas o que resulta em muitas vezes indivíduos idênticos, feitos unicamente para servir ao seus superiores.
Além desse condicionamento genético, há também o psicológico, onde desde pequenos todos os indivíduos são instruídos a serem felizes e satisfeitos com a sua aparência e função na sociedade. E é nesse momento da história que as semelhanças com a nossa sociedade atual surgem.
Primeiramente, todo e qualquer interesse pelo conhecimento (livros, mais precisamente) é desencorajado desde cedo. Os bebês sofrem choques elétricos ao tocarem em livros colocados propositalmente ao alcance da mão, e ao dormirem, escutam uma gravação incessante que fala o quão bom é pertencer a casta para a qual foram designados. Logo, as crianças crescem com a cabeça programada somente para fazer o que o governo quer que elas façam, nada mais, nada menos.
Outras armas utilizadas pelo estado para que os cidadãos (independente de casta) pensem e ajam da forma devida e não se 'distraiam' pensando sobre a sua própria existência são o sexo e as drogas. Como dito anteriormente, o sexo é praticado com o único intuito de prazer, por tanto, qualquer gravidez acidental é autorizada e incentivada pelo estado. As crianças são estimuladas desde pequenas a descobrirem o prazer em seus corpos, por meio de jogos eróticos, sobre o qual não se fala detalhadamente no livro, mais que são parte do sistema educacional fordiano, que tem o objetivo de manter a mente de todos em uma constante excitação sexual. A promiscuidade também é completamente normal e praticada sem nenhum pudor. Não existem casais e todos vivem sob o lema "Cada um pertence a todos."

Existe também o soma, uma droga sintética fabricada e distribuída pelo governo, o uso dela é totalmente livre, e além da sensação de prazer absoluto, ela não possui nenhum efeito colateral (como a ressaca na caso do álcool). Em determinada parte da história é possível notar como a sociedade se tornou extremamente dependente dessa substância, o que mostra como a distribuição dela é a forma mais eficaz de manipulação da grande massa.
Tendo todo esse mundo com valores totalmente invertidos, um homem, também criado em um dos vários laboratórios, começa a questionar todo esse sistema.

Bernard Marx é um alfa mais que foi vítima de um 'defeito de fábrica'. Logo, ele não possui as características físicas da sua casta (como a baixa estatura, por exemplo), com isso ele passa a detestar as suas obrigações e convenções sociais e as suas constantes falhas com as mulheres fazem dele um sujeito calado, introspectivo, algo totalmente inaceitável para um alfa mais. Já o seu melhor amigo, Helmholtz, é um alfa mais totalmente como esperado, mas que mesmo assim questiona todo o condicionamento e as imposições feitas pelas ideologias fordianas.
Vale mencionar que o condicionamento e fordiano não é aplicado em escala mundial. Existem lugares onde pessoas vivem fora de todo esse sistema de fabricação, de uma forma rústica ue lembra bastante os antigos índios da América do Norte. Esses 'selvagens' (termo usado no livro) despertam o interesse de Bernard e Helmholtz, que programam uma viagem para uma reserva de selvagens em Novo México, acompanhados por Lelina, uma mulher jovem e bela pala qual Bernard tem um imenso desejo. Lá eles encontram uma mulher alfa mais que há muito tempo se perdeu em um excursão, e ficou presa na reserva. Tanto tempo afastada da 'civilização' fez ela fugir totalmente dos padrões de beleza impostos na sociedade: ela é encontrada muito acima do peso, velha e com péssimos hábitos alimentares.
Mas o principal fato é que ela estava grávida na época em que se perdeu , e como não havia centros de aborto dentro da reserva, ela acabou dando a luz a um menino, de forma natural.
John, do contrário do esperado, nasce belo e forte, um típico alfa mais e logo se apaixona ela bela Lenina. Porém, esse 'selvagem' teve contato com diversos livros e é um leitor voraz (faz inúmeras citações de várias obras de Shakespeare durante toda a história), e olha com desconfiança a sociedade a qual sua mãe pertencia. Mesmo assim, ele viaja para o mundo civilizado, onde lá ele contesta o sistema e todos os seus elementos. Com isso a história tem o seu desenrolar, repleto de críticas sociais e questões filosóficas.
Não há como escrever uma resenha pequena de obra tão grandiosa.
Aldous Huxley previu, com terrível exatidão, o resultado da transformação de uma sociedade que iria surgir quase 90 anos após a publicação do seu livro. E mesmo não sendo um pessimista, mesmo querendo acreditar que a humanidade e a sociedade do nosso país e do mundo ainda pode tomar um rumo certo e voltar a se apegar à valores já esquecidos, como não notar as semelhanças da sociedade fordiana com a nossa? Como não notar a constante manipulação governamental, o condicionamento social de pessoas, o incentivo ao amadurecimento precoce de crianças, ao consumo de drogas (lícitas e ilícitas) que é tão notável hoje na mídia e nas ruas?
Não vou discorrer aqui sobre a situação política e social do nosso país, pois esse tipo de análise deve ser feita por cada um, de forma pessoal. Somente aconselho a leitura dessa grande obra de ficção, que mesmo tendo sido escrita a tanto tempo atrás ainda serve como um alerta, um de muitos faróis em meio a neblina da ignorância e que a leitura dela desperte também, pelo menos, a inconformidade com o que nos cerca.
História
Escrita

Revisão

Diagramação

Capa

Um comentário:

  1. A grande tríade distópica da ficção científica: Admirável mundo novo (Aldous Huxley); 1984 (George Orwell); Fahrenheit 451 (Ray Bradbury).

    Jean

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