Resenha: O Sobrevivente - Café & Espadas

20 de setembro de 2014

Resenha: O Sobrevivente

Título – O Sobrevivente
Título Original – The Survivor
Autor – Gregg Hurwitz
Páginas – 367
Editora – Arqueiro

Sinopse

No parapeito de uma janela de banheiro no 11º andar do First Union Bank, Nate só tem mais um objetivo na vida: reunir a coragem necessária para saltar e acabar com os seus problemas. De repente, ele ouve tiros dentro do banco e, ao espiar o que está acontecendo, vê uma cena terrível: criminosos mascarados disparando cruelmente em qualquer um que se coloque em seu caminho.

Enquanto sustenta o olhar de uma mulher agonizante, Nate toma uma decisão. Lançando mão de seu treinamento militar, ele consegue render e matar todo o grupo, exceto o seu líder.

Antes de escapar, o homem deixa claro que ele se arrependerá de seu ato heroico. Ele está certo. Em poucos dias, Nate é sequestrado pela máfia ucraniana e recebe uma ameaça: precisa voltar ao banco e concluir a tarefa que os bandidos não puderam cumprir. Do contrário, sua ex-mulher – pela qual ainda é apaixonado – e a filha adolescente, que não o reconhece mais como pai, serão brutalmente assassinadas.

Enquanto o tempo corre de maneira implacável e o prazo de Nate se aproxima do fim, ele luta não só para salvar as duas da morte, mas também para recuperar sua confiança e seu amor.

O Sobrevivente foi um dos lançamentos do mês de julho da Editora Arqueiro – falamos dele aqui no blog. Pode parecer estranho a resenha deste livro estar saindo somente agora, quase três meses depois, mas há uma razão para tudo isso: correios (sempre eles!).

Este contratempo ocorreu devido ao grande atraso que houve no envio do nosso exemplar, mas nada que atrapalhasse a pontualidade da nossa resenha. Vamos a ela.

Esse foi o primeiro thriller que li do autor Gregg Hurwitz. Como sempre faço com todos os autores que são “estreantes” nas minhas leituras, fui pesquisar um pouco sobre os outros trabalhos realizados por ele, que não foram poucos e alguns muito significativos.

Além de vários outros livros de suspense criminal, Gregg desenvolve roteiros para as grandes produtoras Warner Bros., Paramount e MGM e também colabora com roteiros para HQ’s da Marvel e da DC Comics. Um currículo invejável.

Logo, minhas expectativas com relação à O Sobrevivente subiram aos píncaros da curiosidade, e a promessa de uma leitura excepcional despontava radiantemente no horizonte – mesmo com a trama tendo, à primeira vista, uma base não muito atrativa e um tanto rasa.

Devo confessar que o fato de o autor escrever roteiros para filmes e quadrinhos, me levou a crer que ele saberia criar ganchos de tensão dentro da história que iriam me prender a cada virada de página. E realmente ele consegue realizar este feito, pena que não em 100% do tempo.

A trama é centrada na vida de Nate Overbay, um veterano da Guerra do Iraque – conflito que fez parte da chamada “Guerra ao Terrorismo”.

Antes de ingressar nas forças armadas americanas, Nate tinha uma vida perfeita: uma dedicada e amável esposa (Janie), uma filha linda (Cielle) que o fazia se sentir completo e feliz. Porém, veio a convocação do exército.

Por 18 meses ele teria que viver em um inferno onde cada dia de sua vida poderia ser o fim de tudo, longe de sua esposa e filha. Lá, Nate presenciou coisas terríveis; e mesmo depois de regressar, o trauma continuou perseguindo-o, e o fez se distanciar emocionalmente de Janie e Cielle. Consequentemente, ele acabou perdendo-as definitivamente quando Janie resolveu se divorciar dele formalmente. A vida de Nate estava mergulhando de cabeça em um poço profundo e escuro, mas o fundo deste poço ainda não havia sido alcançado.

Após tudo isso, Nate é diagnosticado com uma doença que consumirá seu corpo lentamente, e não lhe permitirá viver por mais tempo. Face a face com o desespero, Nate parte para uma atitude radical e até compreensível: suicídio. E aí que acontece todos os eventos descritos na sinopse da obra, fazendo com que ele se envolva com a perigosa máfia ucraniana e ponha a vida de sua família – se é que ele ainda pode chama-la assim – em péssimos lençóis.

Partindo desse princípio, o livro tem dois caminhos para trilhar: o drama familiar do protagonista e sua família e os elementos mais comuns aos thrillers policiais – o suspense, a ação violenta e o conflito direto com o mundo do crime.

A obra funciona bem nesta segunda faceta: o autor conseguiu inserir vários momentos de tensão no escopo geral da narrativa, todos descritos de uma forma muito direta e sem voltas desnecessárias. Sempre deixando um desenrolar pendente para cenas futuras, que na conclusão mostram desfechos satisfatórios.

O único problema é que essa característica da narrativa vem se destacar um pouco tardiamente, de pouco além da metade da obra até o seu fim. Até lá temos o dramalhão familiar protagonizado por Nate, Janie e principalmente por Cielle – que, diga-se de passagem, é uma personagem que está ali somente para fazer o papel da “filha esquecida pelo pai”, mesmo ela sendo uma peça fundamental para uma grande reviravolta que acontece na história.

Os diálogos desenvolvidos entre Nate e sua filha deslocam a atmosfera que a história deveria ter. Além de serem fracos e cheios de uma emotividade latente em demasia, tornam a leitura maçante e só revelam outro ponto negativo da história: a neutralidade de Janie. Não há uma proatividade da personagem nesta primeira parte do enredo, e ela representa o estereótipo da mulher que “cansou de sofrer”, sendo que a única coisa que ela fez para ajudar Nate com o seu trauma pós-guerra foi dar lições de moral chulas.

As ilusões que Nate com Charles, seu amigo de faculdade, estão ali para representar os erros que consomem sua consciência, e isso seria um elemento muito positivo no enredo. Porém, Charles é aquele personagem “palhação”, sempre com uma piada na ponta da língua, e isso torna as suas aparições uma tentativa de humor bem forçada na trama. Algo poderia ter um resultado bom – mesmo sendo bem clichê – se tivesse sido trabalhado melhor.

Mas vale ressaltar que esses problemas, em sua maioria, se concentram na primeira metade da narrativa, e o autor consegue dar uma boa guinada nos rumos de seu enredo.

Os pontos positivos se sobressaem principalmente nos antagonistas de O Sobrevivente. Pavlo Shevchenko é um chefão da máfia ucraniana. Impiedoso e extremamente violento, teve uma trajetória de vida muito cruel e sanguinária até a sua ascensão no mundo crime. O que lhe rendeu uma boa vida, com luxo, capangas fiéis e uma bela filha – que é a única coisa pela qual ele manifesta algum sentimento.

A forma como o autor descreve a adolescência de Pavlo é bem sintética, mostrando alguns detalhes de como as condições de vida no sistema prisional ucraniano são terríveis, é interessante e nos prende a leitura, para podermos entender melhor como ele se tornou um homem que é simultaneamente um desalmado e um pai amoroso que sempre tenta fazer o melhor para a sua filha – mesmo que isso signifique matar inúmeras pessoas.

A narrativa fica mais ágil, e a ação se torna mais presente e dá um bom fôlego para a história em si, deixando um pouco mais de lado o relacionamento de Nate e sua família. A sequência de clímax ficou bem escrita - e essa é uma ótima qualidade do autor.

O importante é que, entre prós e contras, o livro consegue se salvar. Mesmo não tendo atendido a todas as minhas expectativas. O único pecado foi o autor não ter conseguido temperar melhor a história, colocando ou redimensionando os momentos dramáticos e os de ação pura, para fazer as engrenagens funcionarem melhor.

O trabalho editorial da Arqueiro ficou muito bom, com um padrão já conhecido de suas outras publicações.

No geral, O Sobrevivente é um livro mediano, mas que vale a pena ser lido, pois ele diverte o leitor em vários momentos e possui um desfecho bom o suficiente, mesmo sendo já esperado e anunciado desde o começo da narrativa. A superação e a reconstrução gradual dos laços familiares também é algo bem perceptível e os fãs desse tipo de literatura têm uma boa chance de simpatizar com o personagem e com a escrita do autor.

História

Escrita
Revisão

Diagramação

Capa


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