Título Original – Atlas Shrugged
Autor – Ayn Rand
Páginas – 351
Editora – Arqueiro
Sinopse
Na mitologia grega, o titã Atlas recebe de Zeus o castigo eterno de carregar nos ombros o peso dos céus. Neste clássico romance de Ayn Rand, os pensadores, os inovadores e os indivíduos criativos suportam o peso de um mundo decadente enquanto são explorados por parasitas que não reconhecem o valor do trabalho e da produtividade e que se valem da corrupção, da mediocridade e da burocracia para impedir o progresso individual e da sociedade. Mas até quando eles vão aguentar?
Considerado o livro mais influente nos Estados Unidos depois da Bíblia, segundo a Biblioteca do Congresso americano, "A revolta de Atlas" é um romance monumental. A história se passa numa época imprecisa, quando as forças políticas de esquerda estão no poder. Último baluarte do que ainda resta do capitalismo num mundo infestado de repúblicas populares, os Estados Unidos estão em decadência e sua economia caminha para o colapso.
Ayn Rand traça um panorama estarrecedor de uma realidade em que o desaparecimento das mentes criativas põe em xeque toda a existência. Com personagens fascinantes, como o gênio criador que se transforma num playboy irresponsável, o poderoso industrial do aço que não sabe que trabalha para a própria destruição e a mulher de fibra que tenta recuperar uma ferrovia transcontinental, a autora apresenta os princípios de sua filosofia: a defesa da razão, do individualismo, do livre mercado e da liberdade de expressão, bem como os valores segundo os quais o homem deve viver – a racionalidade, a honestidade, a justiça, a independência, a integridade, a produtividade e o orgulho.
A Revolta de Atlas se consagrou como um
clássico há muito tempo atrás. Quando foi publicado aqui no Brasil na década de
80, o livro já era considerado um dos mais importantes para a literatura americana.
No entanto, mesmo com toda essa fama o precendo, eu não sabia muito bem o que
me aguardava.
Já
tinha lido alguma coisa sobre a sua autora, Ayn Rand, e
sobre o seu posicionamento ideológico, social e político; e sobre o fato de a
sua obra evidenciá-lo com muita transparência.
Já
posso dizer de antemão, antes de expor minha opinião sobre essa obra magnífica,
que a leitura de um livro como este, nos tempos de hoje e mais precisamente na
época em que nos encontramos aqui no Brasil – onde vemos embates políticos
constantes tomando não só as redes sociais, mas a internet como um todo – é
muito pertinente. Principalmente, por ela ir violentamente ao encontro do
pensamento de uma boa parte da maioria, nitidamente inclinada para as bases
ideológicas de esquerda.
Vou
falar um pouco mais sobre como a autora levanta o estandarte do individualismo
na sua história e na construção dos seus personagens, mas antes quero ressaltar
que não pretendo, em nenhum momento, discutir política aqui nesta resenha.
Somente analiso a obra como literatura pura e simples, como vocês já devem
estar acostumados. Deixo isso para blogs ou sites especializados no assunto.
Dito
isso, vamos a história do primeiro volume de A Revolta de Atlas.
O
livro nos leva de início a um Estados Unidos que não está localizado em um
momento certo no tempo.
Decadente
e com a sua economia em frangalhos, o país ainda resiste a uma crise global,
onde as forças políticas da esquerda tomaram o poder e exercem cada vez mais
pressão sobre os governantes americanos para que estes adotem políticas mais
populistas e que minem o desenvolvimento individual e entreguem o progresso
tecnológico nacional – e o trabalho das cabeças pensantes que existem por trás
dele – nas mãos do governo.
As
ruas estão abandonadas. Famílias vivem em situação miserável e a cada dia que
avança, estabelecimentos comerciais e grandes industrias declaram falência. As
grandes mentes da humanidade estão sumindo uma após a outra, misteriosamente, e
não há nada que ninguém possa fazer com relação a isso.
Será
esse o fim de uma das maiores nações capitalistas do mundo? Não é nisso que
Dagny Taggart acredita.
Ela
é a vice-presidente operacional da Taggart Transcontinental, a maior empresa
ferroviária do país, que foi fundada pelo o seu avô, e vê a crise e a péssima
administração do seu irmão, James Taggart, presidente da empresa, ameaçar a
soberania e as finanças da transcontinental.
Tudo
começa quando Dagny decide tomar as rédeas da ferrovia definitivamente e se
arriscar na compra de novos trilhos - feitos de uma liga metálica recém
inventada - para a recuperação de uma linha de suma importância não só para a
sua empresa mas para todo o comércio do país. Este novo metal (chamado de Metal
Rearden) foi desenvolvido por Henry “Hank” Rearden, um grande magnata e um
gênio da siderurgia.
A
luta de Dagny para reerguer a sua companhia acaba se tornando uma luta pela
recuperação e progresso da economia americana, baseando-se no livre comércio, e
muitos aliados se unem a ela nesta causa. Mas a batalha não será tão simples
assim, e os grandes poderosos – incluindo o seu irmão James – irão fazer
oposições severas e usarão de todos os artifícios para pararem suas ambições.
Alguns
poderão até questionar se esse livro realmente se encaixa na temática desse
blog, já que o seu cunho político e sua volumosa carga de referências as
ciências econômicas é muito marcante. A primeira vista até eu mesmo me
questionei sobre isso. Mas logo vi que me enganei em pensar isso.
O
Estados Unidos criado pela autora – saturado, com um governo que age mais como
um deteriorador social transvestido de populista – se encaixa perfeitamente no
gênero de distopia. Somando-se a isso os elementos básicos de ficção científica
que são facilmente notáveis, como os avanços tecnológicos retratados na obra.
Uma
das várias virtudes literárias dessa obra é a forma como Ayn Rand conduz sua
trama. Uma linguagem eloquente, diálogos profundos e primorosos, com ótimas
doses filosóficas que colocam o leitor no centro de ótimos debates do tipo
“capitalismo X socialismo”. O desenrolar dos acontecimentos e a forma como eles
se sucedem é tão cativante que a cada reviravolta implacável, simplesmente
somos surpreendidos com uma atitude inesperada de algum dos personagens.
Personagens esses que são um espetáculo à parte.
São
praticamente obras primas dentro de uma outra obra prima. Fortes, com mentes
vigorosas e respostas ácidas e chocantes para quaisquer questionamentos feitos
a eles. Personagens sem nenhum traço clichê, por mais que o estereótipo de
"gênio" e "dama de ferro" sejam comuns, podemos notar como
a autora os difere, mostrando que nada é absoluto, e por mais forte que eles
sejam, têm suas fraquezas e defeitos.
Dagny
é uma mulher de fibra, que defende vários ideais feministas vigentes na época
dos meados do século XX, como a destruição da concepção de que a mulher foi
feita para o lar, e que nunca poderia atuar no mundo dos negócios. E para provar isso, ela começa de baixo. Sem
precisar pisar ou destruir nada nem ninguém. Somente galgando cada degrau, com
extrema eficiência e domínio do seu ofício. É daquele tipo de personagem que
podemos levar como exemplo para nossas próprias vidas.
Hank,
é um gênio dentro da sua área e um empreendedor brilhante que vive um conflito
cruel com a sua própria família, que nunca compreende o seu afinco por tudo que
conquistou. Desprezo que ele interpreta como medo e inveja por não terem se
esforçado o bastante para conseguir algo parecido.
Francisco
D'Anconia vai de encontro a dureza de caráter e integridade dos outros dois.
Mesmo sendo um gênio nos negócios – e em tudo o que ele se mete a fazer... –
ele se torna um ricaço esnobe e fanfarrão, que desperdiça seu talento e fortuna
em festas e luxúria. Mas tudo indica que há um motivo oculto para toda essa transformação.
A
trama se sustenta principalmente nesses três personagens, os quais a autora faz
questão de mostrar suas origens em flahsbacks,
de forma muito precisa. No momento certo da narrativa, sem atrapalhar o
andamento ou tornar a leitura maçante. Vale ressaltar como são bem elaboradas
essas origens, como são ótimos esses personagens criados pela Ayn Rand...
Sobre
a edição: a Editora Arqueiro produziu uma diagramação simples e ao mesmo tempo
muito informativa. Os três volumes possuem capas iguais, e vieram em um belo
box personalizado. O livro não e muito volumoso, como mencionei, porém a sua
mancha gráfica (o espaço que as palavras ocupam nas páginas) é grande, o que
torna a leitura um pouco lenta. Nada comprometedor, visto o papel de qualidade
excelente e as orelhas que trazem muitas informações sobre o livro e sobre a autora.
É
complicado resumir a qualidade dessa obra em poucas palavras ou parágrafos.
Em
alguns momentos, a autora subitamente estrutura sua narrativa de uma forma a
fazer o leitor entender e sentir como a mente dos seus personagens funciona
diante das situações as quais são obrigados a conviver.
A
escrita de Ayn Rand assume uma nova dimensão, que cruza a zona limítrofe das
narrativas convencionais (em 1ª ou 3ª pessoa) e cria uma experiência quase
sensorial, ministrada com virtuosismo único, com o domínio não só da escrita,
mas também - por meio da sua narrativa magistral - da capacidade de
interpretação do leitor.
Ler
a forma como os seus personagens encaram suas dualidades e seus desejos mais
íntimos, contrastando com a imponência e suas frias tomadas de decisões será um
deleite para os leitores que desejam sair da leitura “água com açúcar”, e
conhecer uma história digna de estar no hall das grandes obras literárias da
humanidade.
A
obra vai muito além da pergunta “Quem é John Galt?”.
Ela é
um brado contra o fim da liberdade de crescimento, contra o conformismo e a
hipocrisia, contra a imposição de limites – em todos os níveis - pelos menos
capacitados. E uma merecida homenagem a todos os indivíduos que - assim como o
titã Atlas – carregam em suas costas o “fardo” de ter uma visão além de seu
tempo, que sempre será minada por quem não a possui.
Digo
sem medo: um dos melhores livros que já li na vida. Ótimo saber que esse foi só
o primeiro volume da trilogia. Recomendo fortemente a leitura de A Revolta de Atlas.
História

Escrita

Revisão

Diagramação

Capa

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