Resenha: Trasgo #3 - Café & Espadas

29 de julho de 2014

Resenha: Trasgo #3

O que é a revista Trasgo?

Já falamos sobre ela aqui no blog, mas não custa nada relembrar, não é?

A Trasgo é uma revista de contos de ficção científica e fantasia, com o intuito de trazer os melhores contos em língua portuguesa, de autores novos e consagrados.

A revista é em forma de e-book, lançada trimestralmente, com quatro edições por ano. É possível acompanhar as novidades pelo Facebook ou Twitter. Ou aqui no Café & Espadas!


“Você lembra quem você é?” Todas as noites aquela pergunta ressoava em sua cabeça. A pergunta, que adormecia durante o dia, lembrava de acordar após Tom conseguir, a muito custo, dormir. Ela espreguiçava-se acompanhada de um rugido, e como uma besta só descansava quando o garoto acordava.
 Acordou e levantou-se num sobressalto.

Bolhas de sabão são estouradas enquanto lembranças eram retiradas das profundezas de uma mente. Capaz de materializar memórias passadas e por vezes perdidas, Tom é um homem muito requisitado para trazer de volta momentos felizes de pessoas desconhecidas. O problema é que essas memórias, quando revividas, são esquecidas por completo.

Gael Rodrigues escreve em O Empacotador de Memórias, a história de um menino que cresceu em meio à solidão e guarda memórias dentro de uma caixa.
Quando Mara Nunes deixou a casa do Prof. Perseu Sunne, ela foi atingida por pétalas e botões de rosas brancas, sopradas do jardim de Perseu pelo pouso repentino de um flutuador da polícia.
Mara buscou o detonador na bolsa, por entre os preciosos cristais de dados, e o sacou com a trêmula mão direita. A forma compacta do flutuador descia diante dela, as luzes policiais rasgando a noite e atingindo o seu rosto, pregando sua sombra contra a parede do corredor que ia da casa de Perseu à garagem. Ela hesitou, a arma em punho, cabelos batendo no rosto. Os canos duplos da metralhadora e do paralisador químico da viatura não estavam apontados para ela. Eles ainda não a tinham visto — ela saíra pela porta dos fundos do escritório secreto de Perseu, semi-oculto entre as roseiras.

Esse conto me lembrou um pouco o filme A.I. - Inteligência Artficial. A ideia de humanos artificiais preenche as linhas desse conto. Falsas memórias os fazem pensar que são tão humanos quanto os verdadeiros humanos. Rosas Brancas, escrito por Roberto Causo, traz intrigas e conspirações girando ao redor da venda de segredos sobre a criação desses novos seres.
Não conseguia me lembrar o porquê de estar no meio daquela multidão. Tinha a estranha sensação de que não deveria ir para onde todos estavam indo, mas a multidão me empurrava. De alguma forma, eu tinha a vaga consciência de estar sonhando, o que explicava a iluminação pálida e os rostos indefinidos. A sensação de déjà vu trazia consigo um pressentimento ruim. Com o se eu fosse morrer no final do sonho.
Dizem que ninguém sonha com a própria morte. Mas também que nunca sabem os quando estamos sonhando.
Um conto que não me agradou tanto. Aqui passeamos pelos devaneios de uma personagem que passou a ter sonhos muito reais depois da morte de sua mãe, que confessa que seu pai nunca a encontrou pessoalmente, apenas em sonhos. Daí vem o motivo do nome do conto (eu acho) - Feita de Um Sonho.


Eu moro na Rua da Alegria 133, 13º andar, apartamento 1313. Bem, apartamento é mais forma de falar, de exibir aos outros que moram de verdade que o meu covil não é tão covil assim. Pois é, o meu apartamento (bem mais um apertamento, como se verá depois) é um modesto quarto-sala-cozinha-banheiro de modestas dimensões, com quatro modestas janelas que nunca me revelam o sol. Lugar este que, fosse eu um pouco mais provido de banha e peso, certamente teria que andar de perfil para evitar um entalamento, digamos, acidental. Curioso ainda é o fato do já referido e descrito meu apartamento situar-se na já referida e nomeada Rua da Alegria, rua essa que alegria nenhuma me deu na vida, exceto talvez pelo fato de abrigar aqui e ali uma ou outra moça mais bonita, um ou outro par de pernas mais avantajado, dois ou três pares de seios mais durinhos. Mas é só isso e não é bem disso que eu quero falar.
Invasão traz um pouco de humor à revista. Um jovem que estava achando seu dia chato foi surpreendido quando vários estranhos resolveram entrar em sua casa sem a sua devida permissão. Claudio Pereira é o Autor.

Tique-Taque piscava e falava duas ou três expressões compulsivamente. Coçava a nuca, mas sua compulsão corporal sumiu. Foi a primeira constatação após puxá-lo da rua para a portaria.
O que houve? Por que estão fazendo isso?
Viral é uma coisa que pode ser chamada de clichê (perdoe-me autor!). Zumbis tentando atacar pessoas presas dentro de casa. Pessoas tentando se comunicar através de rádios piratas. Enfim, é um conto para se passar o tempo.

Já se passaram dez anos, mas eu me lembro de tudo como se tivesse acontecido ontem. Safiah din naan, é como se diz em Sawad. “Pela vontade da Deusa”. Talvez tenha sido uma das únicas vezes em que me senti guiado por ela e não pelos ventos traiçoeiros de Bahaal’zar.
Aconteceu quando eu abandonei de vez Qasar. Quantas vezes minha mãe, minha pobre ammah, não havia peregrinado de tribo em tribo, buscando um lar que nos aceitasse de vez. Fomos nômades como tantas tribos de Sawad o são, mas nem mesmo os andarilhos da areia nos aceitavam quando percebiam que eu não adoecia nunca, nem mesmo quando os ventos da febre vermelha sopravam. Não levava muito mais que um ano para que percebessem que eu era um Ahmar. É assim que eles chamam os filhos de Bahaal’zar, o demônio do vento.
Em O Vento do Oeste um filho de um demônio enfrenta o pai para salvar a vida a uma jovem. Ele faz de tudo para levá-la de volta para sua família para evitar que ela tenha o mesmo destino trágico de sua mãe.

Sobre os autores:

Gael Rodrigues tem 28 anos e é Itabaianense (Paraíba). É bacharel em Direito, e apesar de ter odiado o curso, não se arrepende: é o que paga suas contas. Atualmente mora em São Paulo, capital, e tenta conciliar sua carreira no serviço público federal com o sonho de ser roteirista e o maior escritor do Brasil. Sim, ele sonha muito.

Roberto de Sousa Causo é autor dos livros de contos “A Dança das Sombras” (1999) e “A Sombra dos Homens” (2004), dos romances “A Corrida do Rinoceronte” (2006), “Anjo de Dor” (2009) e “Glória Sombria” (2013), e do estudo “Ficção Científica, Fantasia e Horror no Brasil” (2003). Sua novela “O Par” ganhou o 11º Projeto Nascente. Tem contos publicados em onze países. O selo da série Shiroma é criação de Vagner Vargas.

Caroline Policarpo tem 17 anos e é estudante de ensino médio. Tem hobbies curiosos como literatura e astronomia. Participou de algumas antologias literárias, entre elas Sonhos Lúcidos e Livre para Voar, da Andross Editora.

Claudio Parreira é escritor e jornalista. Foi colaborador da Revista Bundas, Caros Amigos, Agência Carta Maior, entre outras. Tem contos nas coletâneas "Contos de Algibeira", "Fiat Voluntas Tua", "Dimensões.br", "Portal 2001", "A Fantástica Literatura Queer", entre outros. É ganhador do 1º Concurso de Contos da Revista Piauí, em 2007 e autor, pela Editora Draco, do romance “Gabriel”.

Tiago Cordeiro é jornalista formado pela PUC-Rio em 2005. Aprendeu a escrever antes de saber quem era ou entender direito o que lia. Tenta jogar tudo o que escreve no site tcordeiro.com.

Liége Báccaro Toledo é professora de ensino fundamental e tenta ser escritora nas horas vagas. Nasceu e cresceu em Londrina, mas vive em um mundo por dia. Graduada em Letras e mestre em Estudos da Linguagem, é autora da série O Enigma da Lua e publicou um conto na antologia “Excalibur”, da Editora Draco. Ama livros, cinema, comida, RPG, seu marido e cãezinhos.

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