Título Original – The Salmon of the Doubt
Autor – Douglas Adams
Páginas – 304
Editora– Arqueiro
Sinopse
Douglas Adams mudou a cara da ficção científica com a série interplanetária O Mochileiro das Galáxias. Infelizmente, ele fez sua própria viagem para além da Terra cedo demais, deixando milhares de fãs órfãos.
Agora mais uma vez os leitores vão poder se deleitar com a sagacidade desse grande autor. Reunindo textos encontrados no computador de Adams após sua morte, este livro traz uma coletânea de histórias, resenhas, artigos e ensaios inéditos, além de oferecer um retrato raro da personalidade do homem por trás da obra: a devoção aos Beatles, o ateísmo radical, o entusiasmo pela tecnologia, a luta obstinada pelos animais em vias de extinção.
Mistura de homenagem póstuma ao autor com último presente a seus fãs, O salmão da dúvida é profundo, excêntrico, provocante e divertido. Entre arraias-jamantas, alienígenas de duas cabeças, teorias quânticas e sinfonias de Bach, você vai encontrar:
• Dez capítulos do livro em que ele trabalhava quando morreu.
• Um ensaio filosófico questionando a existência de Deus.
• Comentários sobre a constante evolução da tecnologia.
• Um conto protagonizado por Zaphod Beeblebrox.
• Relatos sobre sua infância, seus traumas e seu nariz.
Douglas
Adams morreu em fatídico 11 de maio de 2001. Redundante dizer que uma
legião de fãs foi deixada ao relento, sem nenhuma esperança de voltar a ler uma
aventura de Arthur Dent e seus companheiros peraltas em O Guia do Mochileiro das Galáxias ou
até mesmo algum episódio perdido ou achado de Doctor Who como em Shada.
Tentativas não faltaram, claro.
Tivemos o livro E Tem Outra Coisa... escrito por Eoin Colfer que é considerado uma
continuação oficial da série. Mas a tentativa, como você pôde ler na resenha
publicada aqui no blog, não foi lá uma das mais bem sucedidas, e se eu pudesse
mudar o título da obra, mudaria para Não
é Lá Essas Coisas... Mas essa é só
minha humilde opinião sobre essa obra.
O que realmente importa é o
quanto fiquei feliz e ansioso (e tenho plena segurança de que essa sensação se
estendeu aos admiradores do legado de Douglas) quando a Editora
Arqueiro anunciou o lançamento de uma obra póstuma de Adams. E não seria um
livro qualquer, seria O Salmão da Dúvida.
Esse livro trata-se de uma
coletânea de vários escritos de Douglas: palestras, discursos, entrevistas,
comentários sobre tecnologia e seu avanço frenético, um ensaio filosófico sobre
a não existência de Deus, relatos sobre a sua infância e seus problemas na
escola, sua admiração e sua paixão pela arte em todas as suas formas e – como
se isso tudo não já fosse suficiente- dez capítulos do conto O Salmão da Dúvida, que nada mais é do
que uma história inacabada reconstruída pelo editor Peter Guzzardi, que teve
todo o trabalho de juntar os “retalhos”
escritos por Douglas de forma que formassem algo coeso. E temos também
um outro conto, este protagonizado por Zaphod Beeblebrox, sua excelência,
presidente da galáxia.
Na introdução temos a
excentricidade de Adams exposta por alguém que conviveu diretamente com ela: o
editor Stephen Fry. Era impossível não se empolgar e deixar fascinar com as
ideias que borbulhavam constantemente na cabeça de Douglas.
Sua forma de enxergar a realidade
- colocando os eventos mais banais em uma forma completamente nova e complexa -
ganhava o seu requinte cômico quando ele a transmitia do seu jeito mais típico:
simples e direto. Como quem diz “como
você nunca pensou nisso antes?”. Sem prepotência. Somente para fazer o
leitor rir com esse fato inevitável.
Nessa parte inicial do compilado,
Stephen explica a origem do livro O
Salmão da Dúvida, e todo o trabalho que ele teve em tentar reconstruí-lo.
Então é altamente recomendável a leitura dessa introdução do volume, para que
você possa entender melhor o que está em suas mãos.
Após a introdução, o livro se
divide em outras três partes: A Vida,
O Universo e E Tudo Mais.
Em A Vida temos os relatos referentes à infância e a adolescência de
Douglas, onde vemos que ele teve, até certo ponto, uma vida escolar comum, com
direito a todos problemas que atingem uma boa parte dos estudantes, como
apelidos e outras chacotas pela sua altura e seu nariz. Ele ria consigo mesmo
de tudo isso, e acho que essa é uma atitude que todos deveriam levar para a
própria vida: rir de si mesmo às vezes é melhor do que sempre se vitimizar.
Foi nessa fase de sua vida que
Douglas teve o seu primeiro contato com os Beatles.
Ele narra com extrema empolgação e profunda admiração como o som dos fab four fez sua mente explodir e abrir
seus sentidos para a arte em todos os seus aspectos. Além de tudo isso, temos o
olhar de Adams sobre as efemeridades da vida e o comportamento humano e suas
razões.
Já em O Universo vemos a atração incontrolável que o autor tinha pela
tecnologia, e como ele passou de alguém que a usava como matéria prima para as
suas piadas (devido as ineficiências eventuais dos avanços computacionais da
época) para um consumidor voraz e especialista no assunto, chegando ao ponto de
fazer algumas previsões como a internet wi-fi
e o advento dos smartphones e seus
aplicativos.
Temos também um texto longo onde
ele discursa sobre a existência de Deus. Douglas era um ateu fervoroso, não
desse tipo radical tão comum hoje em dia. É muito interessante ver como ele
desenvolve o seu pensamento e como ele explana sobre a sua cosmovisão.
E finalmente temos E Tudo Mais. Nesse trecho derradeiro do
livro temos o conto Perfeitamente Seguro,
que é protagonizado por Zaphod Beeblebrox, e os dez capítulos de O Salmão da Dúvida, livro protagonizado pelo detetive Dirky Gently.
Douglas fala também sobre seus
outros projetos, sua relação com O Guia
e seu sucesso já consolidado, a experiência de escrever o livro Last Chance to See (que ele revela ser o
seu predileto) que fala dos animais em extinção, e que foi escrito em parceria
com o zoologista Mark Carwardine.
A edição da Editora Arqueiro
seguiu o formato da usada em E Tem Outra
Coisa... com alguns desenhos de elementos que são citados no livro, o
título em alto relevo e orelhas que dão um charme especial para o todo. A
revisão está melhor se comparada com a feita no livro de Eoin Colfer, mas os
erros ainda são bem notáveis. Tirando isso, a diagramação e a qualidade do
papel são ótimas, e o resultado final é muito bom.
Antes de finalizar essa resenha
devo informar a você que está lendo que não citei nem sequer 10% de todo o
material presente nas páginas de O Salmão
da Dúvida. O livro é simplesmente divertido e hilário, no sentido mais
concreto da palavra. A sensação que temos é que estamos em uma conversa
particular com o próprio Douglas, e passamos a nos sentir mais íntimos dele
quando o livro termina. Não recomendo a leitura em lugares públicos (como foi o
meu caso) pois as risadas podem ser incontroláveis, e acredite, você pode
passar vergonha.
Nunca pensei que poderia rir pela
troca do segundo “A” na palavra MANUAL por um “E”. E isso é só uma das várias
histórias narradas por Douglas em um livro que não é bem uma homenagem - a
publicação pode até ser, mas o livro em si não é -, mas simplesmente Douglas
Adams. Simples e puro. Em seu estilo inconfundível, nonsense e envolvente.
O único suplício é ter que fechar
o livro e lembrar que ele não está mais entre nós aqui neste planeta
praticamente inofensivo. Talvez morrer tenha sido a pior ideia que Douglas teve
ao longo de sua carreira, e como seria os livros que ele ainda planejava
escrever.
O Salmão da Dúvida é um eco póstumo da genialidade incomparável e
singular de um autor que deixou mais que um legado para os seus fãs, deixou um
ensinamento precioso de que cada pessoa não deve passar pelo o mundo sem
procurar entendê-lo, aproveitá-lo e melhorá-lo ao máximo, na medida do possível
para cada um. Isso é algo que eu espero que atravesse gerações, e que nunca se perca.
O livro é espetacular, e
indispensável para o acervo de qualquer fã do autor. Recomendo bastante a
leitura.
“Até mais,
e obrigado por tudo, Douglas!”
História

Escrita

Revisão

Diagramação

Capa

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