Conversas de Taberna: O Cyberpunk na Literatura - Café & Espadas

12 de julho de 2014

Conversas de Taberna: O Cyberpunk na Literatura

Olá amigos do Café & Espadas! Tudo bom com vocês?

É... não deu para nossa seleção. 

Mas aqui no blog, o trabalho continua. E hoje na nossa coluna semanal, vamos falar um pouco sobre um estilo literário muito interessante que vive em uma constante simbiose com a Ficção Científica. Estamos falando do Cyberpunk.

Essa semana publicamos a resenha do livro Rio: Zona de Guerra, do autor Leo Lopes. Essa história, como o título sugere, se passa no Rio de Janeiro, e nela nós podemos perceber várias características típicas de uma prosa cyberpunk e de outro elemento – proveniente do cinema – que quase sempre está atrelado a ela, para produzir um ambiente mais rarefeito. Estou falando dos filmes noir, ou simplesmente noir.


Mas vamos por partes, explicar tudo separadamente e depois a forma como esses e outros elementos se fundem para criar um plano de fundo perfeito para uma narrativa cyberpunk.

Então, se você nunca viu, nem comeu e só ouve falar desse assunto pegue a sua caneca de café favorita e me acompanhe nessa pequena jornada.

O que é o Cyberpunk?

Cyberpunk é um subgênero da ficção científica. Especificando: é um tipo de ficção científica onde temos uma sociedade que se desenvolveu de forma peculiar: investiu seu intelecto no progresso tecnológico, o que promoveu as comodidades mais absurdas para a vida humana – coisas que só a tecnologia pode oferecer – e em contra partida, não garantiu a todos o acesso a todas essas regalias artificiais. Gerando uma contínua e profunda desigualdade entre as castas sociais.

Dentro do gênero, isso é chamado de “Alta tecnologia e baixo nível de vida” (High tech, Low life) onde somente uma pequena elite consegue usufruir de toda essa tecnologia, ao mesmo tempo em que a controla.

Não vejo exemplo que ilustre melhor essa explicação do que o filme Blade Runner, dirigido por Ridley Scott. Se você ainda não assistiu, assista o quanto antes. Não somente para entender a pegada cyberpunk, mas também para ver o que é uma obra cinematográfica de verdade.

O responsável pela criação do termo (que foi rapidamente amplamente aceito para definir mais incisivamente as obras de grandes autores como Willian Gibson, John Shirley, Rudy Rucker, Pat Cadigan entre outros) foi o autor Bruce Bethke em 1980, que o usou como título de um de seus contos: "Cyberpunk". Mas quem o popularizou foi o editor de ficção científica Gardner Dozois.

A tecnologia desenvolvida no mundo ficcional nesse tipo de romance envolve desde cibernética e tecnologia de informação (internet) até a engenharia genética. A subcultura dessas sociedades distópicas origina-se na cybercultura, que tem seus trejeitos definidos por pessoas que tentam lutar contra a autoridade e o controle das grandes corporações por meio do uso ilegal e altamente virtuoso das ciências proibidas para eles. Tudo isso ao som do punk rock e música eletrônica.

E falando em distopia... Você pode achar que esses dois (distopia e cyberpunk) são bem parecidos, não é mesmo? E você tem toda razão. A linha que segrega esses dois gêneros é bem tênue. E é aí que entra um elemento que pode separar (e isso não é uma regra) maçãs e laranjas: o tal do noir.

O que é Noir?

Noir é um estilo de filme que incorpora tramas policiais à um mundo totalmente apático. Esses filmes são uma mescla de romances de suspense feitos por volta de 1929 e do estilo visual dos filmes de terror da mesma época.

Nas tramas temos elementos recorrentes que podem generalizar o enredo noir, como por exemplo a ausência completa de compaixão e piedade no mundo habitado pelos personagens, que também assumem estereótipos bem sólidos e definidos como as femme fatales, os policiais corruptos, protagonistas determinados ou alienados, no arquétipo do detetive ou policial que irá investigar um determinado crime, que é o ponto central da trama.

Como mencionei, a presença dos elementos noir não é algo obrigatório para que uma obra se consuma como um cyberpunk, mas algo que pode ajudar a identifica-lo e também diferencia-lo de outros gêneros que podem se assemelhar a ele.

Claro que podemos ver em grande parte das histórias do universo cyberpunk o protagonista que é um hacker genial e sem pudores (como o personagem Case de Neuromancer, obra de Willian Gibson da qual falaremos a seguir) assim como podemos ver também e até com uma frequência considerável, o detetive que se envolve com o submundo, que se envolve emocionalmente com uma femme fatale, e tem um baita crime para resolver, como podemos ver em Sonham os Androides com Ovelhas Elétricas? (livro que inspirou o filme Blade Runner) de Philip K. Dick e até mesmo no livro do autor nacional Leo Lopes Rio: Zona de Guerra.

Neuromancer, Gibson e a ruptura com a ficção científica tradicional

A magnum opus de Willian Gibson. Uma obra que podemos dizer que o arquétipo do cyberpunk, um modelo para o qual todos convergem.

Willian rompeu com os padrões originais da ficção científica comum e apresentou a seus leitores uma realidade alternativa baseada em sensações e texturas, com metáforas confusas e instigantes, explorando o cyberespaço e a inteligência artificial pioneiramente. Uma história mais próxima do que se pode considerar possível, ao alcance do imaginário comum, por mais cruel que seja.

O livro foi publicado em 1984 e ganhou prêmios importantíssimos como Prêmio Nebula (melhor romance de ficção científica), Philip K. Dick Award (Melhor ficção científica Paperback) e o Hugo Award (Melhor romance de ficção científica) e inspirou o mangá The Ghost in the Shell de Mamoru Oshii, que por sua vez, inspirou os irmãos Wachowski na trilogia Matrix.

Outro que não podemos deixar de mencionar é Phillip K. Dick e o seu livro “Sonham os Androides com Ovelhas Elétricas?”, onde temos a decadência social, engenharia genética, o policial com um crime em mãos, e uma grande obra cyberpunk.

No cinema, após o lançamento de Blade Runner o gênero se popularizou na sétima arte, e filmes como Minority Report, A Scanner Darkly e a trilogia Matrix invadiram as salas de cinema, e angariaram elogios da crítica especializada. 


O Cyberpunk vai totalmente contra a visão quase utópica da ficção científica pura e suas viagens intergalácticas.

Ao entrar nesse mundo sombrio, repleto de cabos elétricos desencapados e tubos de ensaio com criaturas geneticamente modificadas é como se a sua mente leva-se um soco e acordasse de um lindo sonho com os desertos de Duna ou as batalhas espaciais de Star Wars.

Assim como os punks da década de 70, que estavam ali para deixar sua assinatura, sua marca, sua pichação na cara da sociedade, o cyberpunk chega dessa forma, com cara de poucos amigos, mas mostra um lado mais denso e sombrio, e talvez por isso, atraente.

E você leitor, que livros cyberpunks já leu? Tem algum para indicar? Algum bom autor que não foi mencionado aqui? Deixe seu comentário aí em baixo e continue a nossa conversa.

Até a próxima!

Nenhum comentário:

Postar um comentário