Olá amigos do Café &
Espadas! Tudo bom com vocês?
É... não deu para nossa
seleção.
Mas aqui no blog, o trabalho
continua. E hoje na nossa coluna semanal, vamos falar um pouco sobre um estilo
literário muito interessante que vive em uma constante simbiose com a Ficção
Científica. Estamos falando do Cyberpunk.
Essa semana publicamos a
resenha do livro Rio: Zona de Guerra, do autor Leo Lopes. Essa história, como o
título sugere, se passa no Rio de Janeiro, e nela nós podemos perceber várias
características típicas de uma prosa cyberpunk e de outro elemento –
proveniente do cinema – que quase sempre está atrelado a ela, para produzir um
ambiente mais rarefeito. Estou falando dos filmes noir, ou simplesmente noir.

Mas vamos por partes, explicar
tudo separadamente e depois a forma como esses e outros elementos se fundem
para criar um plano de fundo perfeito para uma narrativa cyberpunk.
Então, se você nunca viu, nem
comeu e só ouve falar desse assunto pegue a sua caneca de café favorita e me
acompanhe nessa pequena jornada.
O que é o Cyberpunk?
Cyberpunk é um subgênero da ficção científica. Especificando: é um
tipo de ficção científica onde temos uma sociedade que se desenvolveu de forma
peculiar: investiu seu intelecto no progresso tecnológico, o que promoveu as
comodidades mais absurdas para a vida humana – coisas que só a tecnologia pode
oferecer – e em contra partida, não garantiu a todos o acesso a todas essas
regalias artificiais. Gerando uma contínua e profunda desigualdade entre as
castas sociais.
Dentro do gênero, isso é
chamado de “Alta tecnologia e baixo nível
de vida” (High tech, Low life)
onde somente uma pequena elite consegue usufruir de toda essa tecnologia, ao
mesmo tempo em que a controla.
Não vejo exemplo que ilustre
melhor essa explicação do que o filme Blade
Runner, dirigido por Ridley Scott. Se você ainda não assistiu, assista o
quanto antes. Não somente para entender a pegada cyberpunk, mas também para ver o que é uma obra cinematográfica de
verdade.
O responsável pela criação do
termo (que foi rapidamente amplamente aceito para definir mais incisivamente as
obras de grandes autores como Willian Gibson, John Shirley, Rudy Rucker, Pat
Cadigan entre outros) foi o autor Bruce Bethke em 1980, que o usou como título
de um de seus contos: "Cyberpunk". Mas quem o popularizou foi o
editor de ficção científica Gardner Dozois.
A tecnologia desenvolvida no
mundo ficcional nesse tipo de romance envolve desde cibernética e tecnologia de
informação (internet) até a engenharia genética. A subcultura dessas sociedades
distópicas origina-se na cybercultura,
que tem seus trejeitos definidos por pessoas que tentam lutar contra a
autoridade e o controle das grandes corporações por meio do uso ilegal e
altamente virtuoso das ciências proibidas para eles. Tudo isso ao som do punk
rock e música eletrônica.
E falando em distopia... Você
pode achar que esses dois (distopia e cyberpunk) são bem parecidos, não é
mesmo? E você tem toda razão. A linha que segrega esses dois gêneros é bem tênue.
E é aí que entra um elemento que pode separar (e isso não é uma regra) maçãs e
laranjas: o tal do noir.
O que é Noir?
Noir é um estilo de filme que incorpora tramas policiais à um mundo
totalmente apático. Esses filmes são uma mescla de romances de suspense feitos
por volta de 1929 e do estilo visual dos filmes de terror da mesma época.
Nas tramas temos elementos
recorrentes que podem generalizar o enredo noir,
como por exemplo a ausência completa de compaixão e piedade no mundo habitado pelos
personagens, que também assumem estereótipos bem sólidos e definidos como as femme fatales, os policiais corruptos,
protagonistas determinados ou alienados, no arquétipo do detetive ou policial
que irá investigar um determinado crime, que é o ponto central da trama.
Como mencionei, a presença dos
elementos noir não é algo obrigatório
para que uma obra se consuma como um cyberpunk, mas algo que pode ajudar a
identifica-lo e também diferencia-lo de outros gêneros que podem se assemelhar
a ele.
Claro que podemos ver em
grande parte das histórias do universo cyberpunk o protagonista que é um hacker
genial e sem pudores (como o personagem Case de Neuromancer, obra de Willian Gibson da qual falaremos a seguir)
assim como podemos ver também e até com uma frequência considerável, o detetive
que se envolve com o submundo, que se envolve emocionalmente com uma femme fatale, e tem um baita crime para
resolver, como podemos ver em Sonham os Androides
com Ovelhas Elétricas? (livro que inspirou o filme Blade Runner) de Philip K. Dick e até mesmo no livro do autor
nacional Leo Lopes Rio: Zona de Guerra.
Neuromancer, Gibson e a ruptura com a ficção científica tradicional
A magnum opus de Willian Gibson. Uma obra que podemos dizer que o
arquétipo do cyberpunk, um modelo para o qual todos convergem.
Willian rompeu com os padrões
originais da ficção científica comum e apresentou a seus leitores uma realidade
alternativa baseada em sensações e texturas, com metáforas confusas e
instigantes, explorando o cyberespaço e a inteligência artificial
pioneiramente. Uma história mais próxima do que se pode considerar possível, ao
alcance do imaginário comum, por mais cruel que seja.
O livro foi publicado em 1984
e ganhou prêmios importantíssimos como Prêmio
Nebula (melhor romance de ficção científica), Philip K. Dick Award (Melhor ficção científica Paperback) e o Hugo Award (Melhor romance de ficção
científica) e inspirou o mangá The Ghost
in the Shell de Mamoru Oshii, que por sua vez, inspirou os irmãos Wachowski
na trilogia Matrix.
Outro que não podemos deixar
de mencionar é Phillip K. Dick e o seu livro “Sonham os Androides com Ovelhas Elétricas?”, onde temos a
decadência social, engenharia genética, o policial com um crime em mãos, e uma
grande obra cyberpunk.
No cinema, após o lançamento
de Blade Runner o gênero se
popularizou na sétima arte, e filmes como Minority
Report, A Scanner Darkly e a trilogia Matrix
invadiram as salas de cinema, e angariaram elogios da crítica
especializada.
O Cyberpunk vai totalmente contra a visão quase utópica da ficção científica pura e suas viagens intergalácticas.
Ao entrar nesse mundo sombrio,
repleto de cabos elétricos desencapados e tubos de ensaio com criaturas
geneticamente modificadas é como se a sua mente leva-se um soco e acordasse de
um lindo sonho com os desertos de Duna
ou as batalhas espaciais de Star Wars.
Assim como os punks da década
de 70, que estavam ali para deixar sua assinatura, sua marca, sua pichação na
cara da sociedade, o cyberpunk chega dessa forma, com cara de poucos amigos,
mas mostra um lado mais denso e sombrio, e talvez por isso, atraente.
E você leitor, que livros
cyberpunks já leu? Tem algum para indicar? Algum bom autor que não foi
mencionado aqui? Deixe seu comentário aí em baixo e continue a nossa conversa.
Até a próxima!
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