Resenha: "Cinco Bilhões" e "Hamlet: Weird Pop" - Revista Trasgo - Café & Espadas

22 de maio de 2014

Resenha: "Cinco Bilhões" e "Hamlet: Weird Pop" - Revista Trasgo

O que é a revista Trasgo?

Já falamos sobre ela aqui no blog, mas não custa nada relembrar, não é?

A Trasgo é uma revista de contos de ficção científica e fantasia, com o intuito de trazer os melhores contos em língua portuguesa, de autores novos e consagrados.


A revista é em forma de e-book, lançada trimestralmente, com quatro edições por ano. É possível acompanhar as novidades pelo 
Facebook ou Twitter. Ou aqui no Café & Espadas!



Hoje, vamos conhecer mais dois contos pertencentes à segunda edição da Revista Trasgo: Cinco Bilhões, escrito por Victor Oliveira de Faria e Hamlet: Weird Pop, escrito por Jim Anotsu.

Leia um trechinho de "Cinco Bilhões":

Keyra apreciava o belo pôr do Sol que se estendia por todo o horizonte. O tom avermelhado emitido pela estrela, nos últimos anos, demonstrava que sua existência estava ameaçada. Ela, ciente deste fato, aprovei tava para banhar sua pele semi transparente enquanto ainda podia. Yves se aproximou.
— Sabia que a encontraria aqui .
— Estou aprovei tando enquanto posso.
— É, mas você sabe… Em breve o Sol Vermelho irá explodir. Teremos de deixar esta galáxia.
— Uma pena. Se houvesse algo que pudéssemos fazer… Nem com a tecnologia que dispomos foi possível elaborar alguma coisa.
— Por isso vim ao seu encontro. O Conselho descobriu uma estrela gêmea, semelhante à nossa, mas relativamente mais nova.
— Estão certos disso? Onde?
— Este é o problema. Eles sabem que ela existe, mas nossa carta astronômica não a demonstra. Por isso precisam de você. Você é a melhor em cosmocálculo da equipe.
— Porque fui  criada assim.
— Mas você é diferente. Os outros cosmocalculistas não expressam sentimento e nem fazem 
questão de tê-los. Você vem aqui  fora todo dia apreciar a luz direta do Sol Vermelho por algum motivo.
— Ou seja, sou uma aberração para minha espécie.
— Pare com isso, Keyra. Você pode ter um papel fundamental em descobri r uma cura para nosso Sol.
— Acha que é possível?
— Sim. Falta algo, só não sabemos o que é. Estudando uma estrela semelhante à nossa, em seus primeiros bilhões de anos de vida, talvez…
— E nossos registros? Não indicam nada?
— Não. Não temos os dados dos primeiros anos de vida do nosso Sol Vermelho.
— Algo que nem aqueles que nos criaram foram capazes de encontrar... Como saberei  o que falta?
Yves permaneceu calado. Flutuaram juntos sobre a superfície queimada e arenosa. Seus corpos
produziam uma sombra tremeluzente e curiosa sobre as rochas maiores.

Neste conto, Victor conseguiu unir vários elementos inerentes a ficção científica: manipulação genética, a questão dos autômatos e da inteligência artificial e o seu domínio sobre a sociedade, e o embate da grandiosidade do universo e a pequenez da raça humana. A história é cíclica, e a narrativa frenética - e ao mesmo tempo profunda – traz aquela sutileza e sensibilidade que toda boa história de ficção científica possui.

Um bom conto, que não daria muito certo como uma história mais extensa, mas funcionou muito bem da forma que foi escrito.


Leia agora um trecho de Hamlet: Wierd Pop:



[...] Não. Seu Hamlet seria diferente, um reflexo da sua geração desiludida e melancólica. Um Hamlet de flanela e All Star que hesita antes de respirar. Não havia nenhuma outra história que capturasse o século XXI daquela forma, pensou, todas as dúvidas, falta de perspectiva e a incapacidade de tomar uma ação decisiva na hora certa. Um mundo sem a força de Fortinbrás ou a sabedoria de Horácio.
— Viola Wright?
O som de seu nome roubou o devaneio e ela se virou para observar o visitante, uma ação da qual se arrependeu no próximo segundo. Havia ali uma criaturinha de baixa estatura e orelhas pontudas[...]

Com leves críticas a alguma publicações atuais baseadas nos grandes clássicos da literatura, este pequeno conto traz o drama de uma diretora de teatro que vive um dilema no mínimo peculiar: encenar ou não a sua versão moderna de Hamlet. O tal dilema vai além dessa escolha, pois o próprio Shakespeare se manifestou contra a apresentação e reivindica seus direitos como autor junto a justiça “do além”.

Esse conto pode ser incorporado ao gênero da fantasia urbana e não possui uma qualidade elaborativa tão apurada quanto a dos outros contos da revista, mesmo tendo sido bem escrito e ter muitas citações da obra shakespeariana em questão.


Sobre os autores:

Victor Oliveira de Faria é natural de Caxias do Sul/RS e possui 31 anos. Atualmente vive em Santa Catarina, exercendo a função de assistente administrativo. Há mais de dez anos escreve e publica seus contos em sites de literatura, sob pseudônimo. É entusiasta do gênero ficção científica e procura divulgá-lo.

Jim Anotsu não gosta de chocolate amargo. Costuma escrever coisas que inventa e essas coisas são publicadas em papel. É o autor acusado de cometer "Annabel & Sarah" e "A Morte é Legal", assim como alguns contos em coletâneas. Seu próximo livro será publicado pela Editora Gutenberg em algum momento do universo. Ele tem uma gata chamada January e uma noiva.

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