Resenha: O Clone de Cristo - Café & Espadas

10 de abril de 2014

Resenha: O Clone de Cristo

Título – O Clone de Cristo 
Título Original – The Jesus Thief 
Autora –J. R. Lankford 
Páginas – 382
Editora – Saída de Emergência 

Sinopse 


O Clone de Cristo é uma história fantástica sobre uma experiência secreta que pode mudar o mundo: a tentativa de clonar Jesus Cristo a partir do Santo Sudário. O Dr. Feliz Rossi é o chefe da pesquisa, um conceituado cientista obcecado com duas perguntas: será que o tecido do Sudário contém mesmo o sangue de Cristo? E o DNA ainda estará intacto?

Apesar do caráter sigiloso do experimento, forças obscuras tentam impedi-lo e Rossi não tem tempo a perder: precisa encontrar uma mulher para gerar a criança.


Esta trama policial arrepiante nos leva numa viagem inesquecível da alta sociedade nova-iorquina aos bares irlandeses, das igrejas do Harlem à Catedral de Turim. Uma narrativa bem construída sobre laços familiares perdidos, um homem à procura de Deus, uma mulher em busca de um sentido para a própria vida... e uma inesperada história de amor.


Após o dia 22 de fevereiro de 1997, a palavra “clonagem” ganhou a boca do povo.

O que antes era assunto somente de filmes ou livros de ficção científica se tornou algo concreto, e mostrou como a microbiologia e a ciência em geral estava avançando para algo, segundo muitos, temível: o homem criando vida em laboratórios.

O tema continua sendo amplamente debatido até hoje.

Seria certo criar embriões para a obtenção de células-tronco e depois destruí-los? Eles já não poderiam ser considerados como seres humanos? Essas são algumas das várias questões éticas, biológicas e filosóficas que esse tema suscita.

Outro assunto polêmico é a questionável veracidade de uma mortalha guardada a sete chaves pela igreja católica. Esse sudário (mais conhecido como Santo Sudário) supostamente teria coberto o corpo de Jesus Cristo após o mesmo ser crucificado, uma história que todos devem conhecer. O tecido teria marcas diversas e retrataria todos os ferimentos sofridos por ele na tortura, o seu semblante e obviamente pequenas quantidades de sangue conservadas entre suas fibras carcomidas.

J. R. Lankford resolveu juntar esses dois elementos polêmicos em uma história. Tentou criar uma narrativa que iria fazer o leitor se questionar e produzir opinião sobre tais assuntos que englobam, acima de tudo, a mais pura ciência. Um bom suspense poderia ter nascido deste enredo, mas O Clone de Cristo infelizmente não convence nem empolga.

Mas primeiro, vamos ao tal enredo.

Felix Rossi é um conceituado microbiologista de ascendência italiana, muito devoto do cristianismo e um o cientista que lidera um grupo que irá realizar um exame para atestar a autenticidade do Santo Sudário, em Turim, na Itália. Ele vive junto com a sua irmã, Frances Rossi, em um luxuoso apartamento em um prédio no centro de Nova York.

Nesse mesmo ambiente temos a empregada dos Rossi, Maggie Johnsson, que assumirá um papel de vital importância para os planos de Felix; o porteiro Sam Duffy, um irlandês que esconde um amor secreto por Maggie e (várias outras coisas também); e por último temos o dono do edifício (e por que não dizer do mundo?), o senhor Brown, o vilão da história, sempre agindo por detrás das cortinas, e que no decorrer da trama, irá se tornar o maior obstáculo para a concretização dos planos de Felix.

A trama começa quando Felix, tendo acesso direto ao Sudário de Turim, rouba alguns fios do tecido que contêm inúmeras células sanguíneas de Jesus. Sendo assim, ele coloca um plano audacioso e extravagante em ação: usar as células obtidas no Santo Sudário e clonar Jesus Cristo. Um bom enredo (embora batido, já usado em algumas outras obras) para uma grande trama policial, envolvendo ficção científica e personagens envolventes, mas o que vemos na verdade é uma trama lenta, e que não se desenvolve como deveria.

Boa parte do início do livro é só um passeio pelo luxuoso mundo da elite de Nova York. A família Rossi é rica. Muito rica. Todos que cercam os Rossi também são montados na fortuna, e isso a autora esfrega na cara do leitor o tempo todo, tanto que faz com que a leitura da primeira parte da obra seja maçante, e cheia de briguinhas de família.

Um ponto positivo são as descrições dos procedimentos científicos feitos por Felix. Simples, diretas e bem claras, de maneira que qualquer um pode entender. Aliás, toda a escrita da narrativa é bem leve e sem muitos rodeios. Os sentimentos dos personagens não são demasiadamente explorados em sua exposição, e isso deixa a leitura bem dinâmica e rápida.

Outra temática, também muito polêmica, abordada no livro é o preconceito e o racismo.

Felix descobre sua etnia judaica (Italkim, como são chamados os judeus italianos, esse termo não é usado no livro) e isso o motiva ainda mais a concluir a clonagem de Cristo com sucesso, encarando todas as dificuldades e divergências éticas, pois para ele essa seria uma forma de o povo judeu se redimir de seu maior crime durante a história da humanidade: a crucificação de Jesus.

Confesso que achei a atitude do personagem nesse momento muito dramática (dramalhão), e um tanto quanto infantil e sem muito sentido, afinal, um clone é uma cópia, o nome já diz, portanto aquele que foi pregado na cruz há 2014 anos não poderá voltar dessa forma... Mas só estou divagando...

Do outro lado (o lado do racismo) temos a antipática Maggie, que possui uma baixa autoestima, um passado sofrido (que deveria ter sido mais bem explanado) e uma capacidade incrível de dificultar ainda mais as coisas em momentos cruciais, com suas lições religiosas bregas e vazias. Mas a sua fé é algo de se admirar, e no momento em que você começa a simpatizar com ela... O livro acaba.

O que faltou nessa obra pode ser resumido em uma única palavra: profundidade. Em todos os aspectos. As cenas de ação (ditas “eletrizantes!” “De tirar o fôlego!” Nas críticas impressas na capa) são poucas e não apresentam nenhuma surpresa. O clímax deixou muito a desejar, se resumindo a uma perseguição que resulta num final já esperado por quem acompanhou atentamente as reviravoltas do enredo.

Mesmo o tema sendo clichê, com a dose certa de suspense e um pouco mais de maturidade nos personagens, a obra poderia ter dado certo. Clonagem sempre vai render muitas questões filosóficas, científicas e religiosas, não importa quem esteja sendo clonado. Então por que esses temas não foram mais esmiuçados? Por que a autora insistiu em levar tudo mais para o lado espiritual? Quando o que ela tinha em mãos era um prato cheio para a ficção científica e uma boa trama policial? Bom, nunca saberemos.

Sobre a edição: a Saída de Emergência está de parabéns mais uma vez. Como todas as outras edições que vi até hoje, temos uma boa diagramação, poucos erros de revisão, uma capa bonita que ilustra o principal cenário onde a história se desenrola e as páginas um pouco amareladas. O básico de toda boa edição, mas que é tão difícil de encontrar por aí.

Resumindo: O Clone de Cristo ficou bem abaixo das minhas expectativas. E elas já não eram muito altas devido ao enredo escolhido, que não me apresentou nenhuma novidade.

Não sei se essa obra se trata da primeira de uma série, com outros volumes que irão desencadear uma história maior. Se realmente for isso então o que nos resta é ter uma fé igual a de Maggie ou de Felix para que nos possíveis volumes seguintes a autora consiga corrigir seus erros e melhorar as prioridades da sua narrativa e os seus personagens.

Mas caso não seja uma série, então esse livro é uma boa perda de tempo. Leia por sua conta e risco.


História
Escrita
Revisão
Diagramação
Capa

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