Conversas de Taberna: A Ficção Científica no Brasil - Café & Espadas

12 de abril de 2014

Conversas de Taberna: A Ficção Científica no Brasil

Saudações amigos do Café & Espadas!

Na semana passada começamos uma série de textos para os curiosos sobre um dos gêneros temáticos do nosso blog: a ficção científica.

Nessa primeira parte tivemos uma rápida definição da própria ficção científica em si e falamos um poucos também sobre as suas origens. Hoje, vamos dar continuidade mas dessa vez vindo para a nossa produção literária dentro desse gênero. E no Brasil? Quais foram as primeiras obras consideradas de ficção científica e quem eram seus autores? E as quantas ela anda nos nosso dias?

Ilustração selecionada para capa de antologia de Ficção Científica no Brasil

Origem da Ficção Científica Brasileira

Enquanto lá fora algumas obras já tinham várias nuances das principais características desse gênero desde 1719 (Robison Crusoede Daniel Defoe) e o termo “ficção científica” ter sido usado pela primeira vez em 1851, aqui no Brasil tivemos algumas poucas obras publicadas ainda no século XIX que apresentam algumas similaridades, como O Alienista de Machado de Assis e todo o universo criado por Monteiro Lobato em Sítio do Pica-Pau Amarelo. Mas a ficção científica ganhou o seu primeiro grande nome e especialista somente no começo do século XX, e ele era Jerônymo Monteiro.

O jornalista é considerado o primeiro escritor de ficção científica nacional e um dos grandes percursores do gênero. Além de escrever diversas obras, fundou a Sociedade Brasileira de Ficção Científica em 1964, foi editor da edição brasileira da revista americana The Magazine of Fantasy & Science Fiction, que aqui ficou conhecida como Magazine de Ficção Científica, e em 1990 a Isaac Asimov Magazine criou o “Prêmio Jerônymo Monteiro” em homenagem ao escritor. Também trabalhou na famosa Editora Abril e criou uma das primeira séries radiofônicas de ação transmitidas no Brasil, As Aventuras de Dick Peter, em 1937.

Dentre as obras escritas por Jerônymo, podemos citar Três Meses no Século 81, A Cidade Perdida, Fuga para parte alguma e Os Visitantes do Espaço. Ele faleceu em 1970, mas deixou um grande legado que impulsionou outros grandes escritores, e foi nessa época (anos 60 e 70) que começaram as chamadas “ondas” da ficção científica aqui na Terra Brasilis.

As Ondas brasileiras da Ficção Científica

- Geração GRD (primeira onda)

Começou com a publicação de uma coleção de livros do escritor Gumercindo Rocha Dorea (daí o GRD.) e com o lançamento de Eles Herdarão a Terra, de Dinah Silveira de Queiroz.

Com essas obras, outros autores já consagrados da literatura da época começaram a produzir obras que atendessem ao gênero e aos leitores, e houve a primeira organização dos autores nacionais desse campo. Vários grandes autores surgiram ao longo do caminho como Fausto Cunha, André Carneiro, Guido Wilmar Sassi, Antônio Olinto, Zora Seljan e Clovis Garcia, que na sua grande maioria, publicavam contos que posteriormente eram organizados em antologias.

Nessa primeira grande movimentação literária não podemos deixar de citar os nome de André Carneiroe Braulio Tavares que foram considerados os melhores prosadores, e também o jornalista Jorge Luiz Calife que publicou a sua trilogia Padrões de Contato.

Cartaz estrangeiro para o filme Área Q

A Segunda Onda

Trata-se de tudo que foi produzido pelos autores que mudaram os moldes lançados pela primeira onda, sendo atuantes até o começo dos anos 90.

O movimento em si girou em torno de fanzines, e depois migrou para as grandes revistas especializadas no assunto, como a Isaac Asimov Magazine (publicada entre 1990 e 1993) e a Editora Ano-Luz(1997-2004). Isso levou a Ficção Científica para o centro de debates acadêmicos. O estudioso francês Eric Henriett apontou a produção brasileira no subgênero da História Alternativa como a mais original dessa vertente.

Entre os nomes mais atuantes na atual geração encontram-se Octavio Aragão, Carlos Orsi, Fábio Fernandes, o premiado romancista e roteirista Max Mallmann e, talvez o mais bem-sucedido autor brasileiro dentro do gênero - com livros publicados no Brasil e Portugal - Gerson Lodi-Ribeiro.

A Terceira Onda

Essa última fase chega até os nossos dias. Nada mais é do que a mudança dos fanzines para blogs e sites aqui na internet, e assim como na transição da primeira para a segunda onda, essa terceira não pode ser considerada uma discípula da segunda.

Nessa Terceira Onda a ficção científica se atrela mais profundamente a fantasia, e as duas andam lado a lado nas obras mais recentes, e grandes editoras como Record, Novo Conceito, Aleph, Devir e o selo Unicórnio da editora Mercuryo reiniciaram os movimentos de grandes publicações e lançamentos de obras internacionais de grandes autores como Philip K. Dick que, até então, nunca haviam sido publicadas aqui no Brasil.

Poucos autores da segunda onda conseguiram se atualizar e manter suas histórias no embalo dos novatos da terceira. Podemos citar autores como Octavio Aragão, Gerson Lodi-Ribeiro e Fábio Fernandes (que publicou seu primeiro romance cyberpunk Os Dias da Peste em 2009) como alguns que conseguiram a proeza de aderirem adequadamente às novas mudanças.

Outros autores de destaque desse período foram John Dekowes, autor de O planeta de Cristal, O Juízo Final, Só os Anjos Morrem Cedo, Contos do Navegador e O Enigma da Serpente; Cristina Lasaitis com coletânea de contos Fábulas do Tempo e da Eternidade; Hugo Vera que organizou a coletânea Space Opera - Odisseias Fantásticas Além da Fronteira Final e autor do romance Revolução em Vera Cruz e Richard Diegues, autor de CyberBrasiliana.

O Decreto de Ansar - Projeto de Ficção Científica para o público infanto-juvenil 

O que podemos notar é que a ficção científica produzida no Brasil é rica e diversificada. Mesmo sendo um movimento muito jovem, com pouco mais de 30 anos, o acervo literário é extenso. E agora como esse gênero (junto com a fantasia) está em voga, esse volume tende a aumentar exponencialmente.

Se você nunca leu alguma dessas obras citadas no texto, procure-as. É sempre bom analisarmos o nível e a capacidade dos nossos autores e sabemos que na maioria das vezes eles não decepcionam.


Até a próxima!

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