A fantasia segue sua expansão
à plenos pulmões pelo mundo. A cada dia, milhares e milhares de exemplares são
vendidos, conquistando novos fãs e mantendo os atuais; novos autores trazem
histórias para alimentar esse público exigente. Algumas narrativas são bem
originais e têm aquele toque de “novo universo a desbravar”, são bem escritas,
com descrições e enredos bem construídos. Já outras só trazem o mais do mesmo,
mexendo sempre com os mesmos elementos, nada que algum outro autor já não tenha
feito antes.
Bom, por aqui acho que já
podemos dizer que esse tipo de literatura há muito tempo deixou de engatinhar e
já anda com pernas robustas, firmes e é impulsionada por uma leva de autores já
consolidados como os grandes nomes da fantasia no Brasil (não vou citar nomes
para não correr o risco de esquecer algum), e por outros bons autores que estão
chegando agora ao mercado, ou podem estar, neste exato momento, debruçados
sobre suas escrivaninhas, com seus blocos de anotações, computador ou máquina
de escrever (se é que alguém ainda usa isso...) preparando histórias excelentes
para esse público, que por aqui, não chega a ser tão exigente assim.
A Divulgação de Obras no Brasil
Claro que ainda não chegamos
ao ponto de vermos comerciais dos grandes títulos nos grandes meios de
comunicação, no intervalo daquele famigerado jornal televisivo, não,
infelizmente. Ainda temos que ver comerciais de cerveja (que parecem ter seu
espaço reservado como por obrigação) incentivando a asneira coletiva e fico
aqui, pensando com os meus botões: Por que não fazem um comercial de míseros
dez segundos na televisão com algo do tipo: “Leia a nova obra Tal do autor Fulano de Beltrano. Sexta-feira nas
livrarias.”. Sei que um segundo nos espaço comercial no horário nobre é
muito caro, mas pense na divulgação e no pequeno incentivo à leitura que isso
daria. Mas só estou divagando...
Recentemente tivemos em uma
novela, transmitida pela maior emissora nacional, a citação de algumas obras
nacionais como Fios de Prata de
Raphael Dracoon, Os Sete de André
Vianco, O Inverno das Fadas de
Carolina Munhóz e O Alquimista de
Paulo Coelho, onde alguns atores apareciam lendo essas obras em determinadas
cenas da novela. Isso é bom? É ótimo! Na falta daqueles comerciais que
mencionei anteriormente, já está de bom tamanho e mostra a força que esse tipo
de literatura vem ganhando.
Os Autores e as Obras Nacionais
Mas uma coisa deve ser
observada aqui: Nem tudo são rosas.
É um ótimo sinal quando entro
em uma livraria e a vejo cheia de jovens leitores, folheando e conversando
sobre as novidades. Mas temos que observar uma coisa importante: a qualidade do
que está sendo lido. E os autores têm uma das duas parcelas de responsabilidade
sobre isso (a outra parcela fica por conta dos próprios leitores, vou explicar
mais a frente).
Não adianta só produzir,
produzir e produzir. Não basta só encher uma história com zumbis, vampiros e
fadas com a desculpa de atrair o público jovem, atrair com histórias que vão
funcionar como doces, que só vão os deixar obesos e preguiçosos mentalmente. E
nesse ponto, a literatura fantástica nacional ainda tem muito o que melhorar.
Um livro deve instigar,
colocar pra pensar, desconfortar, mesmo que a história seja só para
entretenimento. Sem isso o livro perde uma boa parte da sua função.
Críticas não podem só se
basear em “cenas de ação”, há todo um contexto de ideologias, escrita,
estrutura textual que deve ser analisado, mas antes disso, essas obras devem
ter esses elementos prontos para uma análise do leitor.
Não estou querendo dizer que
não temos obras nacionais de alto nível. Sim temos, claro! E nosso autores são
sim capazes de produzir obras de fantasia excepcionais (boa parte das melhores
histórias que já li são nacionais), mas se formos olhar a quantidade de obras
com essa desenvoltura, o número ainda é ínfimo.
A fantasia já ganhou seu
espaço aqui no Brasil, então já está na hora de amadurecer essa literatura por
aqui. Essa deve ser a maior missão atual dos autores nacionais.
Os leitores Brasileiros e o hábito da leitura no Brasil
O Brasil é um país onde a
média de livros lidos por habitante é de 4 livros por ano (sendo que desses 4,
apenas 2,1 são lidos até o fim; em outros países como a França, por exemplo,
essa média salta para 18.), e isso é muito preocupante e se reflete diretamente
também no nível crítico da massa de leitores nacional.
Lembra que falei que o público
aqui não era tão exigente quanto o de outros países? Pois é, isso não é nada
bom também, já que são as críticas que sobem o nível das obras publicadas e é
aí que os leitores entram com aquela outra parcela de responsabilidade pelo
amadurecimento das obras de fantasia nacionais.
Vejo em vários sites as notas
de ranking que certas obras recebem aqui e lá fora e a disparidade é enorme.
Qual o motivo para uma obra em um site americano receber uma nota 3 (em uma escala que vai de 1 a 5) e aqui no Brasil ela
receber a nota 5, sendo igual ou muito próximo o número de avaliações? Detalhe: obras que muitas vezes os próprios autores
consideraram falhas.
O motivo é: a maioria dos
leitores brasileiros ainda não amadureceram o seu senso crítico, aceitam
qualquer coisa com muita facilidade, se impressionam com muito pouco e por
vezes agem como “tietes” de certos autores, como se tudo que eles escrevessem
automaticamente fosse bom, só pelo fato de ele ser o autor da determinada obra.
Esse é um dos hábitos mais prejudiciais para uma análise crítica. Comentários como “leria até a lista de compras de tal autor” refletem isso que quero dizer. Serve a máxima: Um artista nunca deve ser maior que a sua arte. Claro que um leitor pode ter o seu autor (ou autores) favorito(s), isso é natural, mas não deve influenciar na leitura. A distinção deve ser feita: obra é uma coisa, autor é outra completamente diferente. Um pode ser bom e outro não.
Esse é um dos hábitos mais prejudiciais para uma análise crítica. Comentários como “leria até a lista de compras de tal autor” refletem isso que quero dizer. Serve a máxima: Um artista nunca deve ser maior que a sua arte. Claro que um leitor pode ter o seu autor (ou autores) favorito(s), isso é natural, mas não deve influenciar na leitura. A distinção deve ser feita: obra é uma coisa, autor é outra completamente diferente. Um pode ser bom e outro não.
O contato com obras mais
maduras pode ser uma solução, mas primeiro o interesse e a busca por esse tipo
de leitura devem ser estimulados.
No mais, essa busca pela literatura
fantástica é louvável e essa nova geração de leitores tem tudo pra dar certo e
gerar novas gerações de leitores e autores. E que aquela média de 2,4 livros
aumente bruscamente!
Mas aumente com qualidade.
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Faltou explicar o que são "obras maduras" e dar exemplos do que são rosas na FC&F brasileira e o que não são. Eu leio poucos livros por ano - não li nem 25 até agora; considero pouco - e desisto da maioria por não me agradar. Não acho que ler obras maduras aumenta o senso crítico, porque há uma grande diferença entre o que você gosta e o que é objetivamente bom. Por exemplo: li tranquilamente "A Guerra dos Fae" de Elle Casey e até gostei, mas objetivamente não é um bom livro. Tentei ler obras "maduras" como 1984, não gostei nem subjetivamente nem objetivamente; li "Lituma nos Andes" de Mario Vargas Llosa e achei um pouco melhor que 1984, mas não bom o suficiente. Enquanto isso, li "Um quarto para ela" de Ellen Garner e gostei muito. Todas essas são ficção literária (exceto por 1984, que pode ou não ser FC, dependendo de quem fala; e Guerra dos Fae, que é fantasia).
ResponderExcluirO problema que vejo aqui no Brasil é que tudo é levado no pessoal, tudo é uma questão de inveja ou fazer melhor. Então, não posso criticar Tolkien porque os fanboys virão me dizer que tenho inveja e que eu deveria fazer melhor, não posso criticar ninguém porque senão é inveja. Ler muita coisa diferente também não ajuda enquanto a figura do livro e do autor não forem desmistificados. É necessário ter contato com várias coisas, vários gêneros literários e vários autores, além de ter um senso crítico que começa a ser desenvolvido quando o leitor se sente no direito a não gostar de algo. Concordo com a questão do tiete, e isso cai na parte do levar no pessoal. Muita gente toma uma crítica a um autor como uma ofensa à própria pessoa e aos seus gostos. Isso não pode.
Por mim, li uma parte da Fantasia brasileira sendo lançada e achei fraca, extremamente derivativa do folclore e mitologia europeus, pouco brasileira; muda o nome do autor e o nome dos lugares mas poderia ter sido escrito em qualquer lugar da Europa ou dos Estados Unidos. Também a vejo como derivativa do sistema de RPG: personagens com "classes" bem definidas, "atributos" bem claros, "qualidades&defeitos" óbvios como se montados numa ficha, sistema de "missões", monstros/inimigos e ambientes repetidos do D&D. Além disso, a escrita se torna travada, como se o escritor estivesse jogando um RPG, rolando dados e esperando turnos. Isso, junto da panelinha desvelada e óbvia que toma conta da Fantasia brasileira, onde Raphael Draccon decide quem é publicado e quem não é, além de publicar sua esposa e amigos quando eles não tem uma boa qualidade literária, não leva ninguém a lugar nenhum.
O problema do mercado brasileiro é que nós não temos uma tradição de leitura vasta, que pode ou não ser fruto dos tempos da ditadura (não sei, estou chutando), e da subsequente sacralização da figura do livro e do autor. Se um livro é intrinsecamente bom por ser um livro, então criticá-lo é pecado; se um autor é intrinsecamente bom por ter feito algo também intrinsecamente bom - um livro - então criticá-lo é um pecado maior ainda. Na verdade um autor é só uma pessoa e um livro pode muito bem ter sido só publicado por lucro, fama ou conchavo, além de que não é só o autor que faz o livro - é o editor, revisor, capista, etc.
Olá! Primeiramente, agradeço o seu comentário aqui na nossa coluna. Esse é o objetivo dela, levantar debates saudáveis e construtivos.
ExcluirQuando falo de “obras maduras” me refiro a qualquer obra que não se incorpore a esses romances “pré-fabricados” que vemos hoje (que não são todos, claro, mas são uma boa maioria.). E quando falo isso, direciono meu pensamento unicamente para a fantasia. Esse tipo de literatura que os autores que você menciona no seu comentário estão produzindo é realmente muito genérica e sempre voltam para os mesmos moldes. E para mim é aí que reside o problema.
Quando falei que “nem tudo são rosas” me referi ao aumento no número de jovens leitores e da difusão do hábito da leitura entre eles. Hoje é comum você ver as livrarias cheias de adolescentes procurando algo para ler, e isso é muito bom. O problema começa quando os autores, preocupados em alimentar esse mercado consumidor promissor, produz livros e uma literatura que no geral só irá agradar adolescentes, e feitas puramente para entreter ou distrair. E esses mesmo adolescentes continuarão lendo esse material, se tornarão jovens e adultos que ainda terão como referência de literatura tais obras e como referência de autores, os tais autores. Não critico quem gosta desse tipo de livro (até por que eu mesmo os leio) mas sinto falta de obras mais bem elaboradas no mercado nacional, como uma que resenhei aqui para o blog chamada O Elo, que claro, não é 100% perfeita, mas difere muito de tudo que vêm sendo feito ultimamente. Mas não tem a divulgação que merece, e se tivesse não cairia no gosto do público pois ele tem uma “linguagem difícil”.
Acho simplesmente repugnante essa idolatria que se cria por autores e livros aqui no Brasil (tanto para autores/livros nacionais como internacionais). O argumento do “faz melhor? ” é um dos mais estúpidos que já ouvi (só posso criticar um filme se eu estudar cinema?), assim como o que citei no texto: “leria até a lista de compras de tal autor”. Esse é o tipo de “fanboyzismo” que fecha a mente das pessoas para o quanto a fantasia é rica e diversa. Sou fã de Tolkien? Sou sim. Mas reconheço que a obra dele não é perfeita, apesar de sua importância. É aí que, para mim, o senso crítico tem que entrar: você ser capaz de reconhecer que algo que você adora não é tão perfeito assim.
Quando falei que as obras mais elaboradas podem ajudar nesse ponto é justamente pelo o que você mencionou: mostrar que existe algo além daquilo que você está acostumado a ler. Algo que vai além de “cenas de ação”, sexo, distopias com críticas sociais rasas, fadas em reality shows, “draminhas” de famílias reais, zumbis e o bendito do seu apocalipse... Claro que o gosto pessoal influencia muito, mas todo gênero literário tem as suas obras que merecem um destaque maior e as que simplesmente fazem volume nas prateleiras. Sendo assim, acho que tudo deve começar com os leitores: se eles começam a mudar seus ares, os autores vão se obrigar a produzir uma literatura mais diferenciada.
Obrigado pela sua opinião. =)