Resenha: As Crônicas Marcianas - Café & Espadas

10 de fevereiro de 2014

Resenha: As Crônicas Marcianas

Título – As Crônicas Marcianas 
Título Original – The Martian Chronicles 
Autor – Ray Bradbury 
Páginas – 302 
Editora – Globo 



Sinopse 



Publicado em 1954, As Crônicas Marcianas é uma antevisão crítica dos paradoxos dos velho desejo humano de conquistar o espaço. Depois que Marte é subjugado e colonizado, passamos a conhecer nossas limitações para a dominação do outro – os marcianos -, e a repetição problemática de nossas próprias contradições.





Ray Bradbury é considerado um dos mestres da ficção científica, e suas obras figuram entre as de leitura fundamental para os amantes desse gênero literário. Outras obras importantíssimas escritas por eles são “451 Fahrenheit” (que espero, um dia, ter o prazer de ler e resenhar também) e vários contos que foram publicados em diversas revistas de Sci-Fi da época.

As Crônicas Marcianas trz uma coletânea de 26 contos que foram organizados de uma forma que eles constroem uma história contínua e com um tema em comum: Marte. Mas esse livro vai além da aventura, das viagens espaciais e da tecnologia (coisas que nem são tão focadas assim), e discorre sobre o espírito humano que sempre irá estar enraizado na sua terra natal, sempre desejando o retorno, à volta ao lar e a eternidade.

O primeiro conto (O Verão do Foguete) nos mostra um pouco da vida particular dos marcianos. Ylla, uma marciana que vive com o seu marido em uma casa no meio de um vale árido, começa a ter sonhos com um foguete vindo do espaço e pilotado por uma criatura clara e de olhos azuis (que seria Nathaniel York, o comandante da primeira expedição.). O marido, um marciano relapso e frio, acha tudo aquilo um absurdo e fica enciumado quando os sonhos da esposa se tornam mais fortes, ao ponto dela sussurrar o nome de Nathaniel durante um deles.

Quando o sonho de Ylla se concretiza, o seu marido vai de encontro aos astronautas e os mata.

Nesse conto introdutório temos uma boa descrição de como era Marte antes da chegada dos homens; era um lugar lindo, apesar de muito seco e desértico. As estruturas das casas são de uma arquitetura e beleza peculiar e usa os elementos do próprio planeta como base, como lava vulcânica e cristais. Os marcianos também possuem tecnologia suficiente para criarem armas e veículos.

Tempos depois, chega à Marte a segunda expedição. Os astronautas logo fazem contato com os marcianos e são tratados como loucos, pois se acredita que eles são marcianos que projetam suas loucuras nas mentes das outras pessoas, a ponto de até conseguirem mudar sua aparência física e criar um foguete no meio do nada. Durante esse conto, o leitor é jogado de um lado para o outro, como se estivesse em uma repartição pública tentando resolver algum assunto e dá de cara com uma burocracia que aparentemente não pode ser resolvida em setor nenhum. São nesses pontos que podemos notar as críticas (que são inúmeras, feitas durante todo o livro) feitas por Ray Bradbury à sociedade daquela época, que pode sem nenhum problema se estender até a de hoje.

O livro segue narrando as expedições seguintes até a instalação definitiva do homem no planeta vermelho, e o fim dos marcianos.

Esse livro não é uma ficção científica comum. Ela é mais profunda. Você não verá descrições detalhadas de armas e naves (sempre chamadas pelo simples nome de ‘foguetes’), ou terá cenas de confrontos físicos entre humanos e alienígenas. Não. Mas isso não torna essa coletânea monótona ou difícil de ler.

Alguns contos são simplesmente geniais! Tanto pela crítica a sociedade humana em geral, quanto pela narrativa da própria história e sua linearidade. Vários diálogos são instigantes e levantam questões intrigantes, como por exemplo: “Afinal, o que é realidade?” (conto “Os Gafanhotos”). Junto a isso temos a sociedade marciana que representa uma civilização utópica, que conseguiu unir tecnologia e desenvolvimento a sustentabilidade do ecossistema do planeta, e que só foi destruída por algo que eles não podiam enxergar.

Como se trata de vários contos, o livro não possui um personagem fixo, um protagonista ou antagonista. O que dá ao leitor diversos pontos de vista e análise dos acontecimentos. Hora você enxerga como um capitão de foguete, em seguida como um tripulante, depois como marciano e no conto seguinte como um colono tentando se adaptar ao clima e o ar rarefeito de Marte.

É muito difícil escolher o melhor conto, pois todos conseguem deixar o leitor perplexo e maravilhado ao mesmo tempo. Ray Bradbury mostra por meio da genialidade da sua escrita, o porquê de ele ser considerado a letra B do ABC da ficção científica (junto com Asimov e Clarke).

O ponto negativo que deve ser dito aqui na resenha é com relação à edição (no meu caso, a da editora Globo). A capa é feia e pouco atrativa, o papel é de baixa qualidade e a colagem com a capa deixou muito a desejar; descolando muito e quase soltando algumas páginas. Recomendo a você que, se puder, compre uma edição de outra editora. No mais, o livro não é muito volumoso e a leitura é simples e rápida, com uma linguagem bem direta e uma narrativa sem desvios.

Essa obra é para ser lida, relida e refletida sob um olhar crítico. Mais do que recomendado.

História
Escrita
Revisão
Diagramação
Capa

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